quarta-feira, julho 13, 2005

UM POST INESPERADO

Estive para não escrever sobre isto. Porque li 5-7-75 e fiquei com a sensação de que o silêncio é a melhor resposta. Não queria que fosse entendido por cobardia, antes a manifestação do respeito e da introspecção que aquelas palavras provocaram. M. Yourcenar escreveu «a palavra escrita fez-me ouvir a voz dos homens» e esta auscultação, que não foi a primeira, admito, porque me lembro muitas vezes certo tempo no Café do Cais, onde eu cresi muito interiormente. Mas o troco tem de ser dado, enfim, que nas relações humanas deste calibre, deve haver o princípio das contas à moda do Porto.

Se calhar perdi muito em não ter tido um irmão mais velho ... da mesma forma que ganhei em sê-lo. Mas tenho a certeza que tive muitos modelos, e dos bons, não, dos fantásticos a quem seguir. O meu Pai, o supremo companheiro e compincha de nós todos e em partes iguais, que não permite que sejam melhores que ele (se calhar ninguém é). Há que apontar esta responsabilidade.

Sempre respeitei as posições das pessoas, apesar de querer sempre tudo à minha maneira; muitas vezes discordámos, mas a vida é de cada qual, por isso é que temos responsabilidade. Custa-me que tenhas optado por um caminho distinto, mas a decisão é tua e respeito-a. Mas não penses que não tenho orgulho em ti.

Sempre fui um conservador. Gosto de jogar pelo seguro. E é um bocado estranho admitir que tu ouvias as músicas da moda que eu ao princípio detestava e depois, passado um ano, lá começava a ouvir e gostar. O mesmo se passava com os livros. Tu lias mais do que eu, antes de mim, mesmo desde os nossos 10, 11 anos (até me lembro que eu não sabia o que significava bocejar e tu deste o exemplo da Heidi que quando estava na cidade era obrigada a comer óleo de fígado de bacalhau e quando os miúdos não queriam abrir a boca, administravam-lhe o «medicamento» quando bocejavam), sabias as histórias todas do Spiderman, do Batman e da Liga da Justiça. O exemplo mais redundante é o do Umberto Eco: tinhas lido os Diários Mínimos, depois leste o Pêndulo de Foucault; eu, só passados 10, 12 anos é que o li.

Agora fisicamente separados, mais velhos e mais sentimentais, estamos mais chegados que nunca. Mas apesar de comunicarmos quase todos os dias, tenho saudades, saudades de ti, saudades de todos. E choro em silêncio, porque entendo agora o que é crescer e o que é esse sentimento. Isso, meu irmão, isso é amor. E não o amor que poderá um dia iludir uma mulher, que se devota a um clube ou até a uma profissão. Isto é amor, daquele que não sai, que não se compadece, que não tem medo. Daquele que poucas vezes se admite e raramente se transmite. E eu AMO-TE.