Cara Senhora,
No jornal METRO de 22.02.2006 apareceu uma pequena coluna de opinião de Vossa Excelência. No seu profundo e inconfundível estilo literário que faz gala nos escaparates dos hipermercados desta gloriosa nação, escreveu a linhas tantas: «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual». Mais à frente continuou, «graças à sua fisionomia peculiar e o seu estilo um pouco pomposo, tornou-se no estereótipo do apresentador à antiga portuguesa (...) Até eu, há quase 20 anos no Jornal “O Sete” tive a veleidade de lhe chamar Pateta Alegre numa coluna de crítica televisiva onde me divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Anos mais tarde, quando o conheci pessoalmente, descobri uma pessoa tranquila e simpática (...) Nunca, em algum momento em que me entrevistou em directos ou falou comigo particularmente, me referiu a crónica impensada e juvenil em que o criticava». Da glosa deste escrito podemos concluir o seguinte:
1º Vossa Excelência, imbuída de uma obscura autoridade, deverá julgar que foi a única a visionar a fastidiosa programação televisiva portuguesa dos últimos vinte e cinco anos, ao manifestar o portentoso silogismo «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual»; se não o tivesse afirmado, ninguém o havia notado. Parabéns!
2º Se a ideia era engrandecer-se por referir a sua colaboração no jornal O Sete, o tiro saiu-lhe pela culatra. O Sete era um tablóide semanal estilo pasquim que nem para embrulhar peixe servia pelo excesso de tamanho da folha e apresentava tal prosápia transformada em linhas e palavras que poluíam de negro o branco sujo das páginas cruas, que daquela guisa inquinadas, nem para limpar o cú serviam, porque não se limpa merda com merda.
3º A Senhora afirma que se divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Em 1986, que me lembre, não havia assim tantas figuras como isso, eram para aí seis ou sete, e arrasá-las deveria ser uma espécie de obra inversamente proporcional ao trabalho titânico. Assim, podemos afiançar que os sinónimos hercúleo, plural, diversificado, vasto, intrincado e crítico não servem à caracterização das crónicas por Vós redigidas. Para desancar o Júlio Isidro, bastava muito simplesmente assistir ao Passeio dos Alegres (um excelente programa de entretenimento diga-se sem ironias) e anotar as tiradas do Carlos Miguel, o Fininho, que aludia religiosamente e passo a citar, às orelhas grandes, ao nariz de papagaio, às perninhas de alicate, etc., etc., etc. Mas assim não seria criticar, mas sim insultar.
4º A alarvidade juvenil em almejar o sucesso e o reconhecimento é aqui tão patente que a Senhora acaba por confundir o cavalheirismo e personalidade do Sr. Júlio Isidro com puro e simples desprezo que ele lhe votou pela “crónica impensada e juvenil em que o criticava”, porque lá diz o povo coração que não vê, coração que não sente e não se pode valorizar positiva ou negativamente algo que não conhecemos, como foi o caso.
Senhora Margarida
No rodapé da crónica aparece o seguinte: Margarida Rebele Pinto é escritora. Eu não gosto de literatura de adolescente à la Richard Bach, mas gostos não se discutem; defendo, contudo, que as suas opiniões, mesmo que sejam exames da consciência, não deveriam andar por aí impressas e a desvalorizar jornais gratuitos.
No jornal METRO de 22.02.2006 apareceu uma pequena coluna de opinião de Vossa Excelência. No seu profundo e inconfundível estilo literário que faz gala nos escaparates dos hipermercados desta gloriosa nação, escreveu a linhas tantas: «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual». Mais à frente continuou, «graças à sua fisionomia peculiar e o seu estilo um pouco pomposo, tornou-se no estereótipo do apresentador à antiga portuguesa (...) Até eu, há quase 20 anos no Jornal “O Sete” tive a veleidade de lhe chamar Pateta Alegre numa coluna de crítica televisiva onde me divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Anos mais tarde, quando o conheci pessoalmente, descobri uma pessoa tranquila e simpática (...) Nunca, em algum momento em que me entrevistou em directos ou falou comigo particularmente, me referiu a crónica impensada e juvenil em que o criticava». Da glosa deste escrito podemos concluir o seguinte:
1º Vossa Excelência, imbuída de uma obscura autoridade, deverá julgar que foi a única a visionar a fastidiosa programação televisiva portuguesa dos últimos vinte e cinco anos, ao manifestar o portentoso silogismo «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual»; se não o tivesse afirmado, ninguém o havia notado. Parabéns!
2º Se a ideia era engrandecer-se por referir a sua colaboração no jornal O Sete, o tiro saiu-lhe pela culatra. O Sete era um tablóide semanal estilo pasquim que nem para embrulhar peixe servia pelo excesso de tamanho da folha e apresentava tal prosápia transformada em linhas e palavras que poluíam de negro o branco sujo das páginas cruas, que daquela guisa inquinadas, nem para limpar o cú serviam, porque não se limpa merda com merda.
3º A Senhora afirma que se divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Em 1986, que me lembre, não havia assim tantas figuras como isso, eram para aí seis ou sete, e arrasá-las deveria ser uma espécie de obra inversamente proporcional ao trabalho titânico. Assim, podemos afiançar que os sinónimos hercúleo, plural, diversificado, vasto, intrincado e crítico não servem à caracterização das crónicas por Vós redigidas. Para desancar o Júlio Isidro, bastava muito simplesmente assistir ao Passeio dos Alegres (um excelente programa de entretenimento diga-se sem ironias) e anotar as tiradas do Carlos Miguel, o Fininho, que aludia religiosamente e passo a citar, às orelhas grandes, ao nariz de papagaio, às perninhas de alicate, etc., etc., etc. Mas assim não seria criticar, mas sim insultar.
4º A alarvidade juvenil em almejar o sucesso e o reconhecimento é aqui tão patente que a Senhora acaba por confundir o cavalheirismo e personalidade do Sr. Júlio Isidro com puro e simples desprezo que ele lhe votou pela “crónica impensada e juvenil em que o criticava”, porque lá diz o povo coração que não vê, coração que não sente e não se pode valorizar positiva ou negativamente algo que não conhecemos, como foi o caso.
Senhora Margarida
No rodapé da crónica aparece o seguinte: Margarida Rebele Pinto é escritora. Eu não gosto de literatura de adolescente à la Richard Bach, mas gostos não se discutem; defendo, contudo, que as suas opiniões, mesmo que sejam exames da consciência, não deveriam andar por aí impressas e a desvalorizar jornais gratuitos.
Atentamente,
Croius