sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Carta Aberta a Margarida Rebelo Pinto

Cara Senhora,
No jornal METRO de 22.02.2006 apareceu uma pequena coluna de opinião de Vossa Excelência. No seu profundo e inconfundível estilo literário que faz gala nos escaparates dos hipermercados desta gloriosa nação, escreveu a linhas tantas: «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual». Mais à frente continuou, «graças à sua fisionomia peculiar e o seu estilo um pouco pomposo, tornou-se no estereótipo do apresentador à antiga portuguesa (...) Até eu, há quase 20 anos no Jornal “O Sete” tive a veleidade de lhe chamar Pateta Alegre numa coluna de crítica televisiva onde me divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Anos mais tarde, quando o conheci pessoalmente, descobri uma pessoa tranquila e simpática (...) Nunca, em algum momento em que me entrevistou em directos ou falou comigo particularmente, me referiu a crónica impensada e juvenil em que o criticava». Da glosa deste escrito podemos concluir o seguinte:

1º Vossa Excelência, imbuída de uma obscura autoridade, deverá julgar que foi a única a visionar a fastidiosa programação televisiva portuguesa dos últimos vinte e cinco anos, ao manifestar o portentoso silogismo «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual»; se não o tivesse afirmado, ninguém o havia notado. Parabéns!

2º Se a ideia era engrandecer-se por referir a sua colaboração no jornal O Sete, o tiro saiu-lhe pela culatra. O Sete era um tablóide semanal estilo pasquim que nem para embrulhar peixe servia pelo excesso de tamanho da folha e apresentava tal prosápia transformada em linhas e palavras que poluíam de negro o branco sujo das páginas cruas, que daquela guisa inquinadas, nem para limpar o cú serviam, porque não se limpa merda com merda.

3º A Senhora afirma que se divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Em 1986, que me lembre, não havia assim tantas figuras como isso, eram para aí seis ou sete, e arrasá-las deveria ser uma espécie de obra inversamente proporcional ao trabalho titânico. Assim, podemos afiançar que os sinónimos hercúleo, plural, diversificado, vasto, intrincado e crítico não servem à caracterização das crónicas por Vós redigidas. Para desancar o Júlio Isidro, bastava muito simplesmente assistir ao Passeio dos Alegres (um excelente programa de entretenimento diga-se sem ironias) e anotar as tiradas do Carlos Miguel, o Fininho, que aludia religiosamente e passo a citar, às orelhas grandes, ao nariz de papagaio, às perninhas de alicate, etc., etc., etc. Mas assim não seria criticar, mas sim insultar.

4º A alarvidade juvenil em almejar o sucesso e o reconhecimento é aqui tão patente que a Senhora acaba por confundir o cavalheirismo e personalidade do Sr. Júlio Isidro com puro e simples desprezo que ele lhe votou pela “crónica impensada e juvenil em que o criticava”, porque lá diz o povo coração que não vê, coração que não sente e não se pode valorizar positiva ou negativamente algo que não conhecemos, como foi o caso.

Senhora Margarida
No rodapé da crónica aparece o seguinte: Margarida Rebele Pinto é escritora. Eu não gosto de literatura de adolescente à la Richard Bach, mas gostos não se discutem; defendo, contudo, que as suas opiniões, mesmo que sejam exames da consciência, não deveriam andar por aí impressas e a desvalorizar jornais gratuitos.
Atentamente,
Croius

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

As Joaninhas e os Gatinhos

Querem saber que emprego é melhor que o de crítico de cinema (actividade extenuante em que alguém é pago para ver filmes)? É ser produtor dos programas do canal do momento, destinado ao público da faixa etária 0-3 anos, senhores e senhores, o babytv da foxlive. Para quem nunca viu, aquilo é só iiiiiihhh’s, uuuaaahhhh’s e tudo muito colorido e lento. Dois minutos e doze segundos de visionamento e tem-se a sensação de que se está a aspirar o subproduto da combustão de uma lareira a queimar ganza.
Mas aquilo que me dá a volta à cabeça são as razões para haver um canal deste tipo. A matemática é simples: a publicidade constitui o grosso da receita na perspectiva de quantos mais virem o canal, mais se ganha. Se assim é, que tipo de publicidade pode aliciar miúdos dos 0 aos 3 anos? Que é que eles poderão querer comprar? Ainda por cima com a agravante de eles ainda não dominarem a arte da chantagem emocional com adultos em tão provetas idades para poderem exigir através de fezes/ gritos/ choradeiras/ vomitado (riscar o que não interessa) a roca/ leite/ fralda/ monica belluci para ama (não é preciso riscar, já se sabe o que interessava).
Aqui entra a teoriazita. Um programa que lá bate certinho é o dos teletubies. É educativo, com enredo e polémico. Porque, aparentemente, o tal teletubie de cor violácea parece ser lóló. Igualzinho aos filmes porno. Eu não quero parecer homofóbico, mas eu tenho a certeza que se colocar um dvd dos teletubies de trás para a frente num gira-discos a setenta e oito rotações, ouve-se distintamente as letras g-a-y-p-o-w-e-r. Um programa para esse canal poderia ser, obedecendo à prerrogativa dos guiões com cor, lentidão, barulhinhos e alguma polémica, aquele da vida selvagem com as joaninhas a foder. Porque de pequenino ...

No outro dia tive um sonho estranho. Estava não sei onde, talvez numa festa de despedida de empresa; saí mais cedo da festa e, no caminho para a rua, dei de caras com um tipo que parecia o Drogba do Chelsea, todo vestido às cores e cabelos rastafari meios tapados pela tradicional touca tricolor. Veio em direcção a mim e abraçou-me com aquela naturalidade dos jamaicanos que são amigos de toda a gente (apesar de ele ser côteivoirense - os meus sonhos são transfronteiriços). Disse-me qualquer coisa como tudo-em-cima-má-méne. Quando voltei as costas distingui entre as sebes da propriedade dois pequenos vultos, dois gatos: um deles todo preto com a testa coberta com o mapa de África terçado a verde, amarelo e vermelho; o outro parecia que tinha vestido uma camisa havaiana. Lembro-me de ter sorrido para os gatos e eles sorrirem para mim.
Para provar que não sou homofóbico, eu não fiquei preocupado por ter sonhado com o Drogba, mas sim, por causa dos dois gatos coloridos e sorridentes. É que se juntarmos isto aos caldos de ganza e substituindo-se por cogumelos, a única história que tem gatos a rir é alice no país das maravilhas do lewis carrol e toda a gente sabe que esse livrinho tresanda a homossexualidade.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

A Liberdade de Confusão

Problema velho de meses, a discordância por parte de alguns frisos da sociedade islâmica no concernente a um projecto de um jornal dinamarquês apostado em realizar uma jam session com cartoonistas de modo a perceber-se qual a verdadeira face de Maomé. Lembro o eventual leitor que a BBC já havia feito algo do género há dois ou três anos em relação ao verdadeiro viso de Cristo, com resultados surpreendentes. Por aquilo que os homens debuxaram, depreende-se que gostos não se discutem.
Uma das facções islamitas, mais existencialista, não gostou de ver uma representação mais pilosa de Maomé, com abundante barba e turbante em forma de bomba, alegando que o perfil baseado na extemporânea expressão pelas barbas do profeta “não representa uma interjeição conceptual transposta à realidade, será antes uma analogia à honradez própria do homem adulto, por imposição à irresponsabilidade do rapaz imberbe”; para mais que no tempo de Maomé não havia sido ainda descoberta a pólvora. Outra doutrina, a freudiana, discordou da coexistência entre o profeta com um cão, visto saber-se pelas passagens do Corão Apócrifo do Mar Morto que Maomé era alérgico a estes animais, rejeitando a tese de que o profeta tenha querido alguma vez entrar "em brincadeiras com o quadrúpede”.
Há aqui evidente confusão e estamos aqui para esclarecer a biografia deste importante personagem. Maomé era um homem magro, de compleição franzina mas de grande resistência, por ser corredor de grandes distâncias. De tez morena e barba fina, mas curta, tinha um metro e sessenta e oito e pesava cinquenta e nove quilos. Quem o quisesse encontrar, bastava procurá-lo entre Medina e Meca, localidades que balizavam o seu local de treino diário. Sujeito afável e simpático, era dado a crises de mau humor derivado da presença dos incómodos grãos de areia entre as sandálias e as solas dos pés. Perito em fugas para a frente, acabou a carreira como lebre em maratonas.
Existe, por isso, alguma confusão sempre que se quer perceber as grandes linhas dos países islâmicos. Outro exemplo capaz é aquele que envolve o Irão, que emprega moderna tecnologia na tentativa de exportar gasolina para a Dinamarca e a Noruega através de cocktails molotov lançados para dentro das suas embaixadas, já que ainda não existe um pipeline entre o Médio Oriente e a Jutlândia. E é com alguma preocupação que vejo alguns comentadores de política internacional (leia-se os costumeiros general Loureiro dos Santos e Nuno Rogeiro) a insistirem em ligar estes acontecimentos a um diferendo comercial que opõe o Irão à Noruega chamado “loiras por camelos”. A liberdade dá confusão.

C.