segunda-feira, maio 29, 2006

Carta ao Director

Ex.mo Sr. Dr. Croius:
o zelador do espaço de reflexão cultural, quotidiano e tempestade cerebral que V. Ex.cia governa vem por este meio reportar que ontem, dia 28 de Maio, completou trezentos e sessenta e cinco dias (um ano) ao serviço de V. Ex.cia. Permita-me dizer da extraordinária coincidência da efeméride, já que no mesmo dia se completavam oitenta anos do glorioso golpe militar preconizado pelo General Gomes da Costa que introduziu em Portugal o mais áureo período na nossa existência.
Certo que V. Ex.cia estará interessado em saber da gestão do sítio durante o ano transacto e empenhado no desenvolvimento da qualidade dos serviços prestados à população que diariamente nos visita, tomo a liberdade de lhe deixar aqui alguns apontamentos.
Em primeiro lugar o espaço conhecido como Salmoura teve 1219 visitas, o que não é muito, atendendo-se ao facto de 1183 delas serem da responsabilidade do zelador para proceder à limpeza e asseio do local. Rogo a V. Ex.cia que seja providenciada a colocação de uma placa a pedir às pessoas para não deitarem puriscas de cigarro para o chão. É que isto está com tanta cinza como os montes portugueses; seguimos, assim, a boa experiência de se ter pregado a placa contra as latas de cerveja, porque nunca mais houve latas no chão nem problemas com as formigas.
As pessoas têm-se queixado que vêm aqui muitas vezes e não há muito que ver. Eu digo-lhes sempre que o Sr. Dr. é uma pessoa muito ocupada e que isto não é nenhum jardim zoológico, apesar de parecer, tal a cambada de animais que frequenta o espaço. E depois é preciso notar que nas cinquenta e duas semanas que passaram, o Sr. Dr. publicou quarenta postas, o que dá uma média de 0,77 postas por semana. Por isso não é assim tão mau, porque em lugar nenhum está escrito que isto é um diário.
Ao nível dos visitantes, se calhar era preciso começar a reservar o direito de admissão, como aqueles espaços de diversão noturna costumam fazer, porque tem aparecido muito indivíduo mal parecido que vem dar mau nome à casa. É o caso de alguns vermelhos (eu consigo farejá-los à distância, por causa do cheiro a vodka e a criancinhas do pequeno-almoço) e o dono do quiosque aqui em frente que agora deu-lhe para aparecer por aí de gabardina a melindrar quem por aí passa. Um dos visitantes insiste em dizer que se devia alcatroar os arruamentos e betonar os passeios. Se calhar não era má ideia.
Resta dizer que está tudo conforme; comprei duas vassouras novas, um cadeado de luquête e tintas, porque é preciso pintar as grades do muro.
Tomei a liberdade de mandar celebrar uma missa em honra deste aniversário na Sé.
Sem mais, subscreve com atenção,
Isidoro, zelador de blog.
P.S. Espero que não fique ofendido por referir isto, mas considero haver justeza se me fosse atribuído um pequeno aumento acima da taxa dada pelo governo à Função Pública, acrescido de serviço de turno, em valor igual ao que o Sr. Dr. Rui Rio brindou os lixeiros na Câmara do Porto.

segunda-feira, maio 22, 2006

Quando a discordância força a concórdia

Ontem fui ver o Da Vinci Code; como já uma vez escrevi sobre a patranhada escrita (Carta Aberta ao Sr. Dan Brown), vou agora falar da patranhada filmada.
Para quem não leu o livro, o filme deve ser difícil de seguir: factos bombardeados sem contextualização, tudo de chofre. E as imagens retro que constantemente assolam a mente das personagens só complicam. Para os que leram o livro (é melhor chamar-lhe argumento) ficou apenas a constatação de pontuais alterações em relação à história. Suavizou-se a polémica inicial, aligeirando-se a tese nuclear da história. Com tamanho rol de actores (Hanks, McKellen, Reno, Molina e Bettany) O filme precisava de mais rasgo e força. Não obstante, vou aqui deixar nota de duas ou três prestações positivas repescadas na película.
1. Louváveis prestações da menina Audrey Tautou e do monge Paul Bettany; interessantes as cenas sobrepostas à acção que ilustravam as sinopses históricas.
2. Vê-se, finalmente, uma personagem a cortar a barba durante um filme! Começava a pensar que os argumentistas só compunham personagens imberbes. Na série Perdidos, por exemplo, ao fim de quarenta ou cinquenta dias na ilha, como é possível que os náufragos não estejam já com aspecto de figurantes do Planeta dos Macacos? Não se vê ninguém a cortar a barba nem a depilar pernas ou sovacos; no entanto transmitem um ar de quem acabou de se salvar dos destroços do avião. E afinal o escanhoar é importante para a acção porque é aí que o artista descobre o que eles andam à procura. Digno.
3. Por incrível que vos possa parecer, vejo-me obrigado a concordar com uma posição do Senhor Nuno Rogeiro. Na sexta-feira escreveu ele no JN que se é lícito chamar a Dan Brown um hábil narrador, é no entanto falaz (o termo é meu) considerá-lo historiador ou mesmo arqueólogo. E achei muita piada ao que li hoje no Público, já que Umberto Eco se recusou encontrar-se com D. Brown em Vinci, terra natal de Leonardo, acusando o americano de ser “um intriguista que propaga informações falsas e material de embuste (...) Irei a Vinci quando lá estiver um verdadeiro escritor”.

No final do filme, questionada a minha querida esposa acerca do grado da fita, lembrei-me da fábula das duas cabras que, tendo invadindo um velho cinema, se encontravam a comer bobinas de filmes na sala do projeccionista.
– Que tal o filme? - pergunta uma.
- Gostei mais do livro!

quarta-feira, maio 17, 2006

Um Jardim com a Babilónia em Suspenso

Qual a solução para os problemas do Irão e aliás, de todo o Médio Oriente? Tão simples que ainda não entendi como é que les americaines ainda não o perceberam? Em primeiro lugar é necessário perceber-se que a psicologia do médio-oriental; trata-se de um indivíduo propenso ao estado de aborrecimento e ao crónico mal-encaramento. O tratamento passa por anular-se a fonte da mal disposição, facto que culminará na resolução de todas as questão derivadas daquele paradigma cultural. Depois de aturada reflexão, concluí duas causas para o estado pré-diarreico daquelas populações, respectivamente a barba e a areia.
Quando um homem deixa crescer a barba, passados cinco a seis dias começa a sentir umas comichões da sequente abertura do poro por engrossamento da pilosidade. Se o Sr. Presidente do Irão, Sr. Dr. Mahmud Ahmadinejad, cortasse a barba rente ou a rapasse, se calhar não teria as comichões que o levam, com o stress que daí advém, a desferir frases que qualquer dia serão confundidas com aleivosias de um maluco com uma desproporcional quantidade de petróleo na garagem (fenómeno conhecido na psicologia como complexo do dono da bola).
Depois é a questão arenosa. Quem já ouviu a expressão areia no sapato? Este termo traduz o pequeno incómodo sentido e que não deixa o indivíduo pensar em outra coisa com a clareza necessária. E meus senhores o que é que não falta no Médio Oriente? AREIA!
Logicamente, pretende evitar a entrada de areia no calçado quem almeja disfrutar de uma existência sem as arrelias petro-sapatianas, pelo uso de sapatos, sapatilhas ou botas herméticas. E o que é que os médio-orientais calçam? SANDÁLIAS!
É claro que assim não dá. Com o stress provocado pelas agruras de uma barba a crescer e com grãos de areia nas sandálias, até eu, meus amigos, quereria enriquecer urânio e limpar Israel dos mapas.
A solução passará por bombardear o Irão e arredores com lâminas e espuma de barbear e promover o ajardinamento dos desertos desde o Cairo até à fronteira chinesa, Índia inclusive. Plantando-se pinhais e relva, impede-se a acção nefasta das timosas areias e refresca-se a paisagem. Afinal, uma reposição mais ousada dos famosos Jardins da Babilónia, com o mundo em suspenso.
Croius