quarta-feira, julho 26, 2006

Para umas Férias sem Stress

Porque as férias estão aí à porta, mais curtas é certo, mas urge o sacrifício (observe-se o exemplo de estoicismo dado pelos magistrados que viram as "férias judiciais" tão brutalmente mutiladas), vale a pena partilhar com os meus amigos alguns conselhos para que o stress tão castrador do ócio não vos estrague a seally season.

1. Desconfiar da expressão "abertura fácil" em todas as embalagens;

2. Evitar entrar em lugares que tenham as palavras reduções, há selo para veículos e simplex;

3. Lembrar que perante o termo puxe/ empurre existente em algumas portas, deverá executar o movimento contrário daquele que está a pensar executar (as pessoas quando lêem empurre tem a tendência a puxar e vice-versa);

4. Evitar o convívio com pessoas que abusam do emprego de expressões latinas no discurso coloquial, como a priori, etcaetera, sic transit gloria mundi, a posteriori e habeas corpus.

Boas férias

segunda-feira, julho 10, 2006

O Melhor Remate do Mundial

Que melhor maneira de se rematar o Mundial de 2006 que ter o hino de Portugal cantado pelo portuga-brasileiro? E aquele sotaque n' A Portuguesa, meus amigos? Para o ano está batidinha no Carnaval do Funchal!

sexta-feira, julho 07, 2006

O Engenheiro Médico

Já aqui abordei, ainda que só pela rama, a figura do engenheiro-médico (o Crítico, de15 de Novembro de 2005). O engenheiro-médico é um sabe-tudo, aquele indivíduo que se sente à vontade para abordar criticamente todos os assuntos arremessados para o tampo das mesas de café, quer sejam as grandes opções de desenvolvimento da nação, quer sejam as obscuras teias do poder político, saúde, cinema, viagens e lazer, discotecas e putas, carros, motas e bicicletas, pesca e caça, gastronomia e vinhos, literatura e, claro, acidentes de viação. É aqui que o engenheiro médico se transcende: perante o sinistro, o engenheiro-médico assume esplendorosamente a sua função e desata a tecer considerações fisico-estruturais do traçado da via, condições do pavimento e demais circunstâncias relacionadas com as causas do embate, sua natureza e posterior reconstrução minuciosa a partir dos elementos visíveis no local a olho nu (mais tarde, perante público fiel do café, montará um verdadeiro croquis tridimensional com o tabaco, o telemóvel e a caixa de guardanapos, para melhor ilustrar as suas prestimosas deduções, todos lamentando o facto de os peritos de seguradoras não poderem dispor deste manancial de provas científicas), ao mesmo tempo que avalia o estado da(s) vítima(s), se as há, estabelecendo um célere e mui completo diagnóstico abarcando análise de alcoolémia, exame oftalmológico por mor da cegueira nocturna, TAC’s à cabeça, radiografias ao esqueleto e ecografias aos tecidos moles, tudo num passar de vistas sobre os ditos acidentados. Chegada a ambulância, o contuso já tem a triagem feita e pode ser encaminhado às diferentes especialidades hospitalares.
Na personalidade de cada português existe uma parte de engenheiro-médico, de proporção variável, porque não existem dois portugueses iguais (assim que se explica que quando há um acidente toda a gente abranda para fazer a peritagem). A variação prende-se pela maior propensão do indivíduo para o conhecimento de uma das ciências, a Medicina ou a Engenharia, articulando com o menor conhecimento da outra e vice-versa. Um português médio tem cerca de 21,7% de engenharia-médica, do qual dois terços são engenharia e um terço é medicina (por isso são os portugueses tão fortes a matemática e português e ainda consigam fazer uma perninha na farmacêutica). Existem também os portugueses acima da média, que têm mais engenharia-médica, às vezes 50%, mas existe um que é considerado um verdadeiro milagre psicológico, porque consegue articular em 100% das duas vertentes, tornando-se o único engenheiro-médico a 200%, para além de ser Professor a 120% e Doutor a 165%: é o único caso de Professor Doutor Engenheiro Médico.
Este indivíduo, a grande revelação portuguesa durante o Mundial de 2006, simultaneamente maior vitória e grande conquista, sossega a nação a cada dia que passa, não somente pelas competências que diariamente vai adquirindo, mas pela destreza com que o faz. Desta vez foi vê-lo a comentar o futebol e a prestação da selecção nacional apresentando-se como o trunfo viável da RTP perante ao progressivo perder da chama gloriosa de Gabriel Alves face aos especialistas da SportTv, que inaugurou uma nova página no jogo pensado com as antevisões científicas de António Simões sobre os adversários de Portugal, plena de linguagem técnica que só conhecemos aos olheiros do Benfica e a eterna mãozinha esquerda judiciosamente escondida no bolso, qual fadista da bola.
A próxima temporada futebolística será agora avaliada com aquele olho de lince cruzado com águia, antevendo-se um campeonato mais limpo, mais transparente e melhor jogado. O Professor Marcelo é a grande vitória portuguesa. Mais do que o título mundial, a valorização do páis através da “excelente imagem das qualidades junto da comunidade internacional” (as cabeçadas, saltos para a piscina e o recorde de cartões num jogo): Portugal conquistou um homem melhor.
C.