sexta-feira, outubro 13, 2006

Ensaio sobre a Cegueira (minha)

Hoje é um dia singular, treze, sexta-feira, e eu mergulhado num restaurante de todos os dias, onde se repara com qualidade e sossego as peles da sobrevivência. Com o sossego possível, diga-se, porque na mesa ao lado, dois alarves vão SONORAMENTE deglutindo um arroz de cabidela, ao mesmo tempo que conferenciam com um terceiro menos alarve, sentado duas mesas mais à frente.
Espalho os olhos sobre as páginas ásperas do diário que já foi gratuito e vou lançando as vistas pelas parangonas, ao mesmo tempo que vou tentando chamar a atenção de um dos cinco camareiros que fazem as mesas. Estranho lugar, este, onde os que me conhecem desde criança me tratam por doutor e os que me conhecem há dias me tratam por tu – vou pensando - Em antropologia cultural chamar-se-ia deferência inversamente proporcional à cronologia da agnição.
Saio mentalmente dali e relembro outros lugares, outros restaurantes, bem mais chiques, com buffet, e logo começo a divagar sobre tudo isto. Mais um termo francês, provavelmente originário do antroponímico de quem o inventou/ descobriu/ achou (importa é não ferir sensibilidades), como a nicotina (de Nicot), o cabaret, o sal Vatel e bidé (de Bidet), este último indivíduo dadivoso de incontáveis e prazenteiras rotações na tumba, pela excelência de um invento perante o qual as mulheres não resistem em abrir as pernas.
Estranhos lugares, estes, o da mente. Que desconfio ser paralítica, porque nunca na minha existência serei possuidor dos laivos de génio necessários à escrita de um comercial sobre telecomunicações, no qual os personagens aparecem trajados na parte de cima como yuppy’s dos anos 70 e de membros inferiores mascarados à tenista dos anos 80.
Vai buscar.