segunda-feira, outubro 29, 2007

Já só faltam...

Já só faltam cinquenta e seis dias para o Natal!!!
Ora bem 56 dias:
5+6 = 11
11 pode ser 1+1 = 2

Deve ser este o cálculo cabalístico que as associações de comerciantes e municípios fazem para colocar as iluminações natalícias: dois meses antes.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Diário Tecnológico

4 de Setembro de 2007:
Caminho de Santiago, Pontevedra - Padrón (34 Km)
Lá consegui consertar o espigão da bicicleta em Caldas de Reis, depois de ter partido a cavilha de amarração antes do Barro. Encontrei uma loja de reparação que estava a vender bom material ao desbarato por motivos de liquidação total (Total Carnificine).
Saí de Caldas em direcção ao Padrón e após uns cinco quilómetros, cheguei ao tasquinho onde já é tradição parar-se para descansar e carimbar a credencial.
Estava outro peregrino na bodega a beber uma meia de leite. (Foi aqui que encontramos no ano passado a Ann, uma enfermeira canadiana que estava a fazer o Caminho Português, depois de já ter percorrido os 900 quilómetros do Francês. Ah, com 60 anos).
O casal de velhotes que explora o tasquito é muito simpático e conversamos um pouco; pedi uma água fresquinha e um kit-kat. Quando paguei, pedi à senhora que juntasse à conta os dois cafés que o meu primo e o meu irmão lá ficaram a dever no ano passado, quando vinham de León. Contas à moda do Porto.
Mais à frente, ao passar pelo peregrino, parei para falar com ele. Alemão, estudante de Informática e Sistemas, veio para a Santiago para trabalhar nas vindimas durante as férias. Como ainda não tinham começado naquela região disseram-lhe para tentar no Porto. Chegou lá na última semana de Agosto.
- Mas vindimas só começam em meados de Setembro, disse-lhe eu.
- Eu agora sei isso, mas quando saí de Hamburgo nem tinha pensado nesse pormenor.
No comments.
Lá me contou que resolveu fazer o Caminho desde o Porto, porque tinha de voltar a Santiago para apanhar o avião e assim não desperdiçava os dias que lhe restavam. Caminhava à cinco dias, numa média impressionante de 35 a 40 km/dia, bem carregado e a bom ritmo. Ia completar o percurso em seis dias e sem qualquer preparação.
Perguntei-lhe então que tal estava a ver o caminho enquanto espaço cultural, monumental e patrimonial.
- Eu estou a gostar da experiência, da paisagem, das pessoas, mas como não sou muito cultural, tudo isso dos monumentos, dos museus e das igrejas passa-me um bocadinho ao lado.
Passamos o resto dos quilómetros que faltavam até ao Padrón a conversar sobre Defesa Nacional e Linguística Castelhana (isto não é cinismo, é a mais pura verdade).

25 de Outubro de 2007
Estou à espera pela minha mulher num dos cafés do centro de Viana do Castelo. Estão mais três clientes no café, sentados ao balcão, para além dos dois empregados. Na televisão o jogo Bolton vs Braga. Surpreendo a conversa nestes termos.
“- Olhe que eu acho que o Airbus é melhor que o 747, tem mais capacidade de manobra, é mais versátil. Ainda no outro dia estive a ler as especificações técnicas do aparelho; olhe que fiquei muito impressionado.

- Mas o acidente em Congonhas não foi com um Airbus?
- Foi, mas não podemos atribuir as culpas ao aparelho; o piloto aterrou em excesso de velocidade e em Congonhas, já se sabe, é muito perigoso, com aquelas construções mesmo em cima da pista
...”.
Paguei o café, levantei-me e saí, gritando em plenos pulmões do meu pensamento:
ISTO ESTÁ VIRADO AO CONTRÁRIO!!!!!

quarta-feira, outubro 24, 2007

Vida Académica

"Continuam as matanças de gatos, à mocada, cá na República. Uma selvajaria. Só quem assiste a isto pode avaliar o que é um homem primitivo. Não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada."

Miguel Torga, Diário, 1 de Março de 1933

segunda-feira, outubro 15, 2007

Esquerda ou Direita?

No outro dia fui fazer umas análises, para ver como está o funcionamento da máquina e para calibrar a minha compatibilidade antropométrica com possíveis doações, actividade desportiva, medicina do trabalho, etc e beltreca.
De madrugada, depois de embalar urina fresca no recipiente de recolhas, lá me dirigi em jejum como manda a legislação da colheita de análises para a clínica. Ali fui recebido por um daqueles técnicos de ar dantesco, outrora frequentes nas morgues e nos hospitais psiquiátricos dos anos 50, que preencheu enfadado o formulário após o que me conduziu para a “sala de colheitas”, nome tão pomposamente rural e descabido para aquele sítio, porque mais valia o nome “sala de tortura” ou “sala da cadeira e da marquesa”, já que lá só existia uma cadeira e uma marquesa.
Apontou-me a cadeira, daquelas forradas a napa preta, com um único apoio para o antebraço do lado esquerdo. Tirei a camisola e sentei-me. Como o técnico se colocou à minha direita, eu enrolei a manga direita da camisa e estiquei o braço dextro, esperando que ele acabasse de colar as etiquetas com os códigos de barras numa série de pequenas provetas. Findo esse trabalho, volta-se para mim, olha para os meus braços e pergunta
- Qual é o braço que prefere, o esquerdo ou o direito?
Eu ainda indico com os olhos o braço direito previamente desnudo até cima, mas ele desvia-se com um
- O esquerdo? Pois muito bem, ponha lá o bracinho à mostra.
Eu, esmagado com a capacidade de persuasão do meu olhar, lá enrolei a manga esquerda, ficando de mangas arregaçadas, ao que o tipo atira
- Pois é, parece que chegou o tempo fresco!

"NEM DE PROPÓSITO, CARALHO", quis-lhe dizer, mas só me saiu
- É o tempo dele.
Poderemos extrair uma certa moralidade desta experiência, para além da temática meteorológica que o português tanto aprecia quando não há assunto.
Valerá mais um esquerdo apoiado, que um direito arregaçado.

Croius