sexta-feira, dezembro 29, 2006
Que bem que faz ao corpo
E é de mim ou calções não ligam com botas de cano alto?
BONNE ANNÉE POUR VOUS
quarta-feira, dezembro 13, 2006
Já alguma vez pensou em mudança de carreira?
As figurinhas que obrigam o rapaz a fazer. Como se não bastasse a quantidade de cenas pouco edificantes que alguns meliantes brindam o quotidiano, lá vem mais esta, agora ao abrigo da quadra que agora se aproxima (em abono da verdade já se está a aproximar desde meados de Outubro).
Depois da piroseira da bandeira, agora vemos por todo lado o Pai Natal a assaltar as varandas e janelas. Mas desengane-se quem pensa que o Homem de Vermelho está apenas a tentar entrar em casa, porque não cabe no tubo do exaustor. É mais um sinal dos tempos.
Depois de algum tempo a limpar chaminés, onde acumulava um par-time como podologista, encarregue de analisar da existência de matéria fúngica em milhares de sapatinhos, passou pelos volantes dos camiões da Coca-Cola. Foi entretanto dispensado da empresa após um escândalo, pois foi surpreendido a beber Pepsi (a fotografia até correu a Net). Agora está no ramo da impermeabilização de varandas e instalação de marquises.
O futuro não é nada risonho para o sorridente velhote; agora que a obesidade infantil é encarada como um dos males do século XXI, a invocação da sua figura por motivos pedagógicos sempre que os meninos não se comportem em termos não será muito consistente (“ao contrário não leva prenda do Pai Natal”). Ver-se-á obrigado a emagrecer com dietas que não permitem a fruição de bebidas gaseificadas caramelizadas.
Mais um caso a acabar-se onde começou ou a prova de que a vida dá estranhas voltas.
sexta-feira, outubro 13, 2006
Ensaio sobre a Cegueira (minha)
Espalho os olhos sobre as páginas ásperas do diário que já foi gratuito e vou lançando as vistas pelas parangonas, ao mesmo tempo que vou tentando chamar a atenção de um dos cinco camareiros que fazem as mesas. Estranho lugar, este, onde os que me conhecem desde criança me tratam por doutor e os que me conhecem há dias me tratam por tu – vou pensando - Em antropologia cultural chamar-se-ia deferência inversamente proporcional à cronologia da agnição.
Saio mentalmente dali e relembro outros lugares, outros restaurantes, bem mais chiques, com buffet, e logo começo a divagar sobre tudo isto. Mais um termo francês, provavelmente originário do antroponímico de quem o inventou/ descobriu/ achou (importa é não ferir sensibilidades), como a nicotina (de Nicot), o cabaret, o sal Vatel e bidé (de Bidet), este último indivíduo dadivoso de incontáveis e prazenteiras rotações na tumba, pela excelência de um invento perante o qual as mulheres não resistem em abrir as pernas.
Estranhos lugares, estes, o da mente. Que desconfio ser paralítica, porque nunca na minha existência serei possuidor dos laivos de génio necessários à escrita de um comercial sobre telecomunicações, no qual os personagens aparecem trajados na parte de cima como yuppy’s dos anos 70 e de membros inferiores mascarados à tenista dos anos 80.
Vai buscar.
quarta-feira, setembro 20, 2006
Uma Advertência
terça-feira, setembro 19, 2006
A Duplicidade de um Gesto
quinta-feira, setembro 14, 2006
Uma questão de Patentes
sexta-feira, agosto 18, 2006
Ah, Agosto, Quelles Souvenirs ...
Até nisso estão à frente, mas por trás.
quinta-feira, agosto 17, 2006
Olho Bem Aberto
quarta-feira, agosto 16, 2006
Expresso do Oriente
quarta-feira, julho 26, 2006
Para umas Férias sem Stress
1. Desconfiar da expressão "abertura fácil" em todas as embalagens;
2. Evitar entrar em lugares que tenham as palavras reduções, há selo para veículos e simplex;
3. Lembrar que perante o termo puxe/ empurre existente em algumas portas, deverá executar o movimento contrário daquele que está a pensar executar (as pessoas quando lêem empurre tem a tendência a puxar e vice-versa);
4. Evitar o convívio com pessoas que abusam do emprego de expressões latinas no discurso coloquial, como a priori, etcaetera, sic transit gloria mundi, a posteriori e habeas corpus.
Boas férias
segunda-feira, julho 10, 2006
O Melhor Remate do Mundial
sexta-feira, julho 07, 2006
O Engenheiro Médico
Na personalidade de cada português existe uma parte de engenheiro-médico, de proporção variável, porque não existem dois portugueses iguais (assim que se explica que quando há um acidente toda a gente abranda para fazer a peritagem). A variação prende-se pela maior propensão do indivíduo para o conhecimento de uma das ciências, a Medicina ou a Engenharia, articulando com o menor conhecimento da outra e vice-versa. Um português médio tem cerca de 21,7% de engenharia-médica, do qual dois terços são engenharia e um terço é medicina (por isso são os portugueses tão fortes a matemática e português e ainda consigam fazer uma perninha na farmacêutica). Existem também os portugueses acima da média, que têm mais engenharia-médica, às vezes 50%, mas existe um que é considerado um verdadeiro milagre psicológico, porque consegue articular em 100% das duas vertentes, tornando-se o único engenheiro-médico a 200%, para além de ser Professor a 120% e Doutor a 165%: é o único caso de Professor Doutor Engenheiro Médico.
Este indivíduo, a grande revelação portuguesa durante o Mundial de 2006, simultaneamente maior vitória e grande conquista, sossega a nação a cada dia que passa, não somente pelas competências que diariamente vai adquirindo, mas pela destreza com que o faz. Desta vez foi vê-lo a comentar o futebol e a prestação da selecção nacional apresentando-se como o trunfo viável da RTP perante ao progressivo perder da chama gloriosa de Gabriel Alves face aos especialistas da SportTv, que inaugurou uma nova página no jogo pensado com as antevisões científicas de António Simões sobre os adversários de Portugal, plena de linguagem técnica que só conhecemos aos olheiros do Benfica e a eterna mãozinha esquerda judiciosamente escondida no bolso, qual fadista da bola.
A próxima temporada futebolística será agora avaliada com aquele olho de lince cruzado com águia, antevendo-se um campeonato mais limpo, mais transparente e melhor jogado. O Professor Marcelo é a grande vitória portuguesa. Mais do que o título mundial, a valorização do páis através da “excelente imagem das qualidades junto da comunidade internacional” (as cabeçadas, saltos para a piscina e o recorde de cartões num jogo): Portugal conquistou um homem melhor.
terça-feira, junho 27, 2006
Misteriosos os Desígnios do Senhor
Esta renovada força que literalmente cabeceou os tamancas-laranjas para fora da competição cilindrará também os tommys, à semelhança do sucedido no Euro 2004. O Portugal-Brasil das meias-finais a 5 de Julho ficará conhecido como a Batalha de Munique, assim chamada pelo embate titânico das arcadas dentárias superiores de Petit e Ronaldinho Gaúcho, provocando um número não estimado de feridos e contusões derivadas das faíscas emandas da fricção. A eliminação do Brasil do mundial vai provocar ondas de choque e uma crise diplomática sem precedentes entre os dois países, culminando no embargo à exportação de novelas da Globo e à expulsão dos pastores da Universal Reino de Deusdo canal 11 da TV Cabo.
No final, por intervenção do grande mediador de conflitos do mundo Atlântico, o grande democrata Hugo Chavéz, a crise chegará ao fim quando sua alteza Ronaldo I, El Gordo, monarca da ilhota de Angra, passará para outro ronaldo insular, Cristiano Ronaldo, El Romero, o título de el-principal-pina-modelos-capa-de-hola-y-mujer-hodierna.
Misteriosos são os desígnios do Senhor...
segunda-feira, junho 19, 2006
Notas sobre Modelismo e (alguma) Literatura
Leram bem. Nesta mítica Novgorod, local onde, segundo o romance, teria sido treinado o ultraperigoso e venezuelano assassino Carlos, o Chacal, existia uma réplica à escala de Lisboa. Como a acção decorre um pouco antes da queda do Muro, certamente que a paisagem lisboeta lá recriada não seria muito diferente da que lhe conhecemos hoje sendo mais que certo que em Novgorod existiria um Terreiro do Paço, um Marquês, um Rossio e até um Parque Eduardo VII. Para se obter uma versão aproximada, pode-se aceder ao google earth e viajar pela fotografia aérea de Lisboa, navegar no estuário do Tejo e no Mar da Palha, observar a geometria pombalina da Baixa, etc. A diferença é que não se assiste agora como então à procissão de meninos para o apartamento da Avenida das Rua Forças Armadas, nem se avista uma nuvem negra carregada positiva e electricamente que em 1989 ensombrava permanente os palácios de Belém e S. Bento.
A questão que me martela o cérebro é esta: se os requisitos para a recriação em Novgorod do modelo de uma cidade residia na sua importância como centro de inteligência ou associada a centros de produção de armamento ou desenvolvimento tecnológico, e não conhecendo lá nenhuma fábrica de mísseis nem electrodomésticos com selo made in Portugal, porquê o interesse dos soviéticos em Lisboa?
segunda-feira, maio 29, 2006
Carta ao Director
segunda-feira, maio 22, 2006
Quando a discordância força a concórdia
Para quem não leu o livro, o filme deve ser difícil de seguir: factos bombardeados sem contextualização, tudo de chofre. E as imagens retro que constantemente assolam a mente das personagens só complicam. Para os que leram o livro (é melhor chamar-lhe argumento) ficou apenas a constatação de pontuais alterações em relação à história. Suavizou-se a polémica inicial, aligeirando-se a tese nuclear da história. Com tamanho rol de actores (Hanks, McKellen, Reno, Molina e Bettany) O filme precisava de mais rasgo e força. Não obstante, vou aqui deixar nota de duas ou três prestações positivas repescadas na película.
No final do filme, questionada a minha querida esposa acerca do grado da fita, lembrei-me da fábula das duas cabras que, tendo invadindo um velho cinema, se encontravam a comer bobinas de filmes na sala do projeccionista.
– Que tal o filme? - pergunta uma.
- Gostei mais do livro!
quarta-feira, maio 17, 2006
Um Jardim com a Babilónia em Suspenso
Quando um homem deixa crescer a barba, passados cinco a seis dias começa a sentir umas comichões da sequente abertura do poro por engrossamento da pilosidade. Se o Sr. Presidente do Irão, Sr. Dr. Mahmud Ahmadinejad, cortasse a barba rente ou a rapasse, se calhar não teria as comichões que o levam, com o stress que daí advém, a desferir frases que qualquer dia serão confundidas com aleivosias de um maluco com uma desproporcional quantidade de petróleo na garagem (fenómeno conhecido na psicologia como complexo do dono da bola).
Depois é a questão arenosa. Quem já ouviu a expressão areia no sapato? Este termo traduz o pequeno incómodo sentido e que não deixa o indivíduo pensar em outra coisa com a clareza necessária. E meus senhores o que é que não falta no Médio Oriente? AREIA!
Logicamente, pretende evitar a entrada de areia no calçado quem almeja disfrutar de uma existência sem as arrelias petro-sapatianas, pelo uso de sapatos, sapatilhas ou botas herméticas. E o que é que os médio-orientais calçam? SANDÁLIAS!
É claro que assim não dá. Com o stress provocado pelas agruras de uma barba a crescer e com grãos de areia nas sandálias, até eu, meus amigos, quereria enriquecer urânio e limpar Israel dos mapas.
sexta-feira, abril 28, 2006
contra a agressividade
segunda-feira, abril 03, 2006
Clap Your Hands Say Yeah
Acedi. Sempre tive jeito para escoltar vacas à sala de abate. Viviam na periferia e lá as deixei, depois de me terem vomitado catorze vezes no carro. Insistiram muito para que entrasse para mais um copo e mais não sei o quê, mas já tinha bebido o suficiente e já me falta a paciência para jogos às quatro da madrugada.
Só depois de ter passado toda a manhã de domingo a lavar os estofos do carro é que me dei conta do perigo que as raparigas corriam. Imaginem que outra pessoa lhes dava boleia, alguém sem escrúpulos que se aproveitava da sua inocência ébria e as maltratava, digamos, sexualmente. É que uma vez na casa delas eu poderia fazer TUDO o que eu quisesse, e não seria certamente jogar monopólio se eu fosse um predador sexual.
Foi aí que me lembrei da campanha desenvolvida em Inglaterra para dissuadir os meninos de abusarem de meninas que não conseguem dizer que não a uma queca ao sábado à noite por estarem positivamente alcoolizadas. A campanha tem um slogan parecido com se não te disserem um SIM, poderás ter de dormir com este na próxima vez e aparece a fotografia de um senhor com ar amistoso deitado num beliche de uma cela de prisão, ou por outras palavras, copular com a menina sem ela tiver manifestado o acordo prévio partilhas o chilindró com um biltre.
Tudo muito certo, mas como é que um indivíduo consegue provar que a menina deu o aval ao acto? Porque quando uma mulher diz sim significa não e vice versa. A forma segura de não ter problemas póstumos coitais poderá passar por uma declaração escrita, de preferência reconhecida por um notário. E como é que se arranja um notário às cinco da manhã?
Os Estados modernos (entre os quais se conta a nossa portentosa nação) possuem notariado privado. Com esta campanha será possível observar na rica fauna nocturna que fronteia as discotecas a barraca do notário, bem ao lado da barraca dos cachorros. Neste sistema perfeito, basta aos jovens de moralidade promíscua andarem atentos e esperar que alguma menina bata palmas e diga sim.
sexta-feira, março 24, 2006
Humphrey Saiu do Frio
quarta-feira, março 08, 2006
Dois apontamentos por ordem de significância
II. Hoje, dia internacional da mulher, não me ocorre festejar a efeméride mais imbecil de todas, a que lembra à mulher que ela só o é no dia 8 de Março de cada ano. Por isso as minhas homenagens às mulheres que não ligam patavina a esta merda e até se sentem ultrajadas com estes festejos.
p.s. Aborrece-me constatar que o meu alter-ego é semelhente ao meu eu. E que 829 pessoas já meteram aqui as vistas. E ainda nem sequer passou um ano.
sexta-feira, fevereiro 24, 2006
Carta Aberta a Margarida Rebelo Pinto
No jornal METRO de 22.02.2006 apareceu uma pequena coluna de opinião de Vossa Excelência. No seu profundo e inconfundível estilo literário que faz gala nos escaparates dos hipermercados desta gloriosa nação, escreveu a linhas tantas: «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual». Mais à frente continuou, «graças à sua fisionomia peculiar e o seu estilo um pouco pomposo, tornou-se no estereótipo do apresentador à antiga portuguesa (...) Até eu, há quase 20 anos no Jornal “O Sete” tive a veleidade de lhe chamar Pateta Alegre numa coluna de crítica televisiva onde me divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Anos mais tarde, quando o conheci pessoalmente, descobri uma pessoa tranquila e simpática (...) Nunca, em algum momento em que me entrevistou em directos ou falou comigo particularmente, me referiu a crónica impensada e juvenil em que o criticava». Da glosa deste escrito podemos concluir o seguinte:
1º Vossa Excelência, imbuída de uma obscura autoridade, deverá julgar que foi a única a visionar a fastidiosa programação televisiva portuguesa dos últimos vinte e cinco anos, ao manifestar o portentoso silogismo «Júlio Isidro faz parte do património nacional do audiovisual»; se não o tivesse afirmado, ninguém o havia notado. Parabéns!
2º Se a ideia era engrandecer-se por referir a sua colaboração no jornal O Sete, o tiro saiu-lhe pela culatra. O Sete era um tablóide semanal estilo pasquim que nem para embrulhar peixe servia pelo excesso de tamanho da folha e apresentava tal prosápia transformada em linhas e palavras que poluíam de negro o branco sujo das páginas cruas, que daquela guisa inquinadas, nem para limpar o cú serviam, porque não se limpa merda com merda.
3º A Senhora afirma que se divertia a arrasar as figuras mediáticas da época. Em 1986, que me lembre, não havia assim tantas figuras como isso, eram para aí seis ou sete, e arrasá-las deveria ser uma espécie de obra inversamente proporcional ao trabalho titânico. Assim, podemos afiançar que os sinónimos hercúleo, plural, diversificado, vasto, intrincado e crítico não servem à caracterização das crónicas por Vós redigidas. Para desancar o Júlio Isidro, bastava muito simplesmente assistir ao Passeio dos Alegres (um excelente programa de entretenimento diga-se sem ironias) e anotar as tiradas do Carlos Miguel, o Fininho, que aludia religiosamente e passo a citar, às orelhas grandes, ao nariz de papagaio, às perninhas de alicate, etc., etc., etc. Mas assim não seria criticar, mas sim insultar.
4º A alarvidade juvenil em almejar o sucesso e o reconhecimento é aqui tão patente que a Senhora acaba por confundir o cavalheirismo e personalidade do Sr. Júlio Isidro com puro e simples desprezo que ele lhe votou pela “crónica impensada e juvenil em que o criticava”, porque lá diz o povo coração que não vê, coração que não sente e não se pode valorizar positiva ou negativamente algo que não conhecemos, como foi o caso.
Senhora Margarida
No rodapé da crónica aparece o seguinte: Margarida Rebele Pinto é escritora. Eu não gosto de literatura de adolescente à la Richard Bach, mas gostos não se discutem; defendo, contudo, que as suas opiniões, mesmo que sejam exames da consciência, não deveriam andar por aí impressas e a desvalorizar jornais gratuitos.
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
As Joaninhas e os Gatinhos
Mas aquilo que me dá a volta à cabeça são as razões para haver um canal deste tipo. A matemática é simples: a publicidade constitui o grosso da receita na perspectiva de quantos mais virem o canal, mais se ganha. Se assim é, que tipo de publicidade pode aliciar miúdos dos 0 aos 3 anos? Que é que eles poderão querer comprar? Ainda por cima com a agravante de eles ainda não dominarem a arte da chantagem emocional com adultos em tão provetas idades para poderem exigir através de fezes/ gritos/ choradeiras/ vomitado (riscar o que não interessa) a roca/ leite/ fralda/ monica belluci para ama (não é preciso riscar, já se sabe o que interessava).
Aqui entra a teoriazita. Um programa que lá bate certinho é o dos teletubies. É educativo, com enredo e polémico. Porque, aparentemente, o tal teletubie de cor violácea parece ser lóló. Igualzinho aos filmes porno. Eu não quero parecer homofóbico, mas eu tenho a certeza que se colocar um dvd dos teletubies de trás para a frente num gira-discos a setenta e oito rotações, ouve-se distintamente as letras g-a-y-p-o-w-e-r. Um programa para esse canal poderia ser, obedecendo à prerrogativa dos guiões com cor, lentidão, barulhinhos e alguma polémica, aquele da vida selvagem com as joaninhas a foder. Porque de pequenino ...
No outro dia tive um sonho estranho. Estava não sei onde, talvez numa festa de despedida de empresa; saí mais cedo da festa e, no caminho para a rua, dei de caras com um tipo que parecia o Drogba do Chelsea, todo vestido às cores e cabelos rastafari meios tapados pela tradicional touca tricolor. Veio em direcção a mim e abraçou-me com aquela naturalidade dos jamaicanos que são amigos de toda a gente (apesar de ele ser côteivoirense - os meus sonhos são transfronteiriços). Disse-me qualquer coisa como tudo-em-cima-má-méne. Quando voltei as costas distingui entre as sebes da propriedade dois pequenos vultos, dois gatos: um deles todo preto com a testa coberta com o mapa de África terçado a verde, amarelo e vermelho; o outro parecia que tinha vestido uma camisa havaiana. Lembro-me de ter sorrido para os gatos e eles sorrirem para mim.
Para provar que não sou homofóbico, eu não fiquei preocupado por ter sonhado com o Drogba, mas sim, por causa dos dois gatos coloridos e sorridentes. É que se juntarmos isto aos caldos de ganza e substituindo-se por cogumelos, a única história que tem gatos a rir é alice no país das maravilhas do lewis carrol e toda a gente sabe que esse livrinho tresanda a homossexualidade.
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
A Liberdade de Confusão
Uma das facções islamitas, mais existencialista, não gostou de ver uma representação mais pilosa de Maomé, com abundante barba e turbante em forma de bomba, alegando que o perfil baseado na extemporânea expressão pelas barbas do profeta “não representa uma interjeição conceptual transposta à realidade, será antes uma analogia à honradez própria do homem adulto, por imposição à irresponsabilidade do rapaz imberbe”; para mais que no tempo de Maomé não havia sido ainda descoberta a pólvora. Outra doutrina, a freudiana, discordou da coexistência entre o profeta com um cão, visto saber-se pelas passagens do Corão Apócrifo do Mar Morto que Maomé era alérgico a estes animais, rejeitando a tese de que o profeta tenha querido alguma vez entrar "em brincadeiras com o quadrúpede”.
C.
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Paladino Não-Sei-Do-Quê
A imagem primeira que temos do Paladino é a do cavaleiro andante, um justiceiro nómada, iconograficamente representado por indivíduo a cavalo, amiúdamente ladeado ou secundado pelo seu escudeiro, já que não consegue apertar as fivelas do bacinete sozinho (um bacinete é armadura, só que em francês). O mais conhecido será o trinómio Quixote&Rocinante&Sancho Pança, ainda que muitos não concordem com o mau exemplo de um paladino com alucinações (o vinho da Mancha tem muito grau e a continuidade monótona daquela paisagem aconselha o belo trago com frequência).
O Paladino não-sei-do-quê é, antes de mais, um indivíduo com tendência à solidão e desempregado, porque para se abraçar a carreira de paladino de todas as causas é preciso ter imenso tempo livre. O difícil é discernir se o ócio concorre para o desenvolvimento da patologia e não o amor solidário que move esta classe, à semelhança da gorda maioria do advogados portugueses que, despretensiosamente e repudiando possíveis compensações financeiras, aceitam representar qualquer litigância desde que o combate esteja assegurado. Em relação directa, o Paladino não-sei-do-quê recebe com frequência o epíteto de advogado do diabo, apesar de representar os interesses da religião. Por isso, este Paladino é controverso.
Exemplo do Paladino não-sei-do-quê é o hacker sagaz e sabe onde se escondem todas as mensagens subliminares: a palavra Echelom suscita-lhe o sorriso malicioso do tipo cúmplice. Faz downloads 24h/dia e vende dvd’s piratas só para o imperialismo não lucrar com a globalização, porque tem consciência antiglobal. É teórico acérrimo da conspiração e como todos os teóricos conspiradores, é ambientalista. Defende a pés juntos que “Cavaco Silva foi assassinado por um insecto intergalático que depois vestiu a sua pele, à semelhança do sucedido no MIB-I. Daí o candidato de direita ter aquele viso inexpressivo de olhos encovados que quando é confrontado com questões onde se mencionam fugazmente as palavras Lopes, fricção política e Santana, se limita a escancarar a boca, como quem tem filamentos de presunto entre os dentes do siso”. Ao mesmo tempo denuncia que “Mário Soares assassinou um verme intergalático e vestiu-lhe a pele, daí apresentar uma derme constituída por uma sequência de ondulados à la michelin e responder sempre bah! quando o questionam sobre o seu terceiro lugar nas sondagens”.
Ao abraçar o cursus honorum de campeão de todas as causas, o Paladino não-sei-do-quê não só levantou o cu do ócio, mas tornou-se na massa de que nascem os diplomatas e os políticos, i.é, é uma soma de negativo e positivo, mais e menos, ac/dc, equilíbrio de forças desiquilibradas, simultaneamente Paulo e Miguel Portas, é Francisco e é Louçã. È inimigo do leão e amigo da onça. É e não é.
O costume levar-me-ia ao encerramento desta crónica com uma tirada pseudo-inteligente em que a partir da reflexão inicial era produzida uma jocosa e laboriosa construção semântica onde a significância extrapolaria o significado; mas tal não farei, porque apesar de tudo, o Paladino não-sei-do-quê tem de ter alguém que o defenda.