No domingo recebi a notícia pelo The Sun: "Política Britânica de Luto. Morreu uma lenda ". O Público atacou com a parangona da última página de segunda-feira, "Morreu Humphrey". Fiquei triste, porque o conheci.
Humphrey era um ilustre funcionário do nº 10 de Downing Street, tendo entrado ao serviço ainda durante o consulado da Dama-de-Ferro Maggie Thatcher, em 1988. Este Humphrey era um respeitável indivíduo que por diversas vezes viu o seu nome arrastado para os jornais e até ao parlamento britânico. Numa vez quase foi atropelado pela limousine de Clinton e por pouco não despoletou uma crise diplomática entre bifes e yanques, só porque o rapaz passeava distraído pelas traseiras da casa.
Mais recentemente foi motivo de sururu no parlamento britânico,quando os Blair o exoneraram do seu cargo de vigilante da casa, porque aparentemente dormitava demasiado em serviço. Aí, o conservador Alan Parker receava que o moço tivesse sido abatido pelo SAS ou pelo MI6, exigindo provas da sua existência. Humphrey fez-se então fotografar em frente a um jornal diário fazendo prova de vida, qual refém de guerrilheiros columbianos.
Morre Humphrey e com ele morre a verdade sobre o sangrento assassinato da família de piscos que habitava as sebes do nº 10 da rua-que-desce, crime que lhe havia sido imputado mas logo desfeiteado pela cunha de John Major, que se encarregou de mandar arquivar o caso na penumbra dos arquivos da Torre de Londres.
Humphrey, um gato vadio que sabia muito, tal como os personagens de John Le Carré.