quarta-feira, setembro 21, 2005

Carta Aberta ao Sr. Dan Brown

Excelentíssimo Senhor,
Fui na onda e li o seu romance (as palavras são suas) O Código da Vinci. Li e li com cuidado, mas digo-lhe já que não repetirei o erro de ler outra diarreia mental de Vossa Senhoria, como o Anjos e Demónios. É que tenho medo que o seu estilo fácil seja contagioso. Sim, leu bem. O seu estilo literário é fácil. Fácil do tipo literatura de aeroporto. E é incrível que uma pessoa bem formada como é o caso de Vossa Excelência caia tão facilmente no género que se apresenta nos escaparates das lojas de aeroporto.
Convenhamos. O assunto não é novo. Cristo, Maria Madalena, evangelhos apócrifos, manuscritos do Mar Morto, o Santo Graal, Leonardo. Até aqui tudo bem. O engraçado é misturar tudo com Opus Dei. É a mesma coisa que meter num saco seis bébés e uma cascavel: é tudo muito bonitinho até que começa a polémica. O pior é quando Vossa Senhoria empeça a desenrolar a teia de acontecimentos que apesar de até certo ponto bem urdida, acaba por se tornar uma chachada à americana. É que tudo bate-demasiado-certinho, não há o Princípio da Incerteza que reveste a melhor literatura. Vossa Senhoria já alguma vez ouviu falar de figuras de estilo e ambientes psicológicos? É que as suas descrições dos ambientes é risível e os únicos momentos em que se lê uma metáfora é quando a personagem diz “excelente metáfora essa” ou “nunca tinha ouvido uma comparação tão boa”!
Depois, Senhor Brown, os seus personagens são risíveis. O simbologista Langley é o tipo de herói que os americanos da classe média almejam (almejam = desejam): meia idade, não é atraente mas inteligente, domina um assunto que mais ninguém domina (isto é, não há lugar ao contraditório) e resolve todos os enigmas ao melhor estilo do Inspector Colombo, o olho meio vesgo a tirar ilações a saca rolhas. Depois a heroína Sophie, com aquela luta interna com o Avô (Freud chamava-lhe complexo de Electra, eu chamo-lhe o Complexo da Heidi), ainda por cima criptologista (mais uma especialista numa merda que ninguém domina; só faltou o neurologista e o Horatio do CSI-Miami). Ainda há um fanático religioso albino, um académico tarado pelo Santo Graal e um inspector chamado Bezu Fache. Bravo!
Mas o golpe final surge na miríade de descrições pormenorizadas em que mostra que se documenta para escrever as suas patranhadas. Exemplos: o avião de Teabing é um “Elisabeth Hawker 731 com motores TFE”; já o todo-o-terreno dele é um “Range Rover Jar Black Pearl 4x4 com transmissão normal com faróis de alta potência de polipropileno, montes de luzes nas traseiras”; enquanto a pistola do Silas é uma “Heckler and Koch”. Ó Senhor Brown: Vossa Senhoria deveria começar a pesquisar material nas bibliotecas e em livros, não em revistas como a Autosport, a Hangares e Hélices e catálogos da Redoute e da Loja Raposa!
O problema é que toda a gente decidiu editar sequelas: o código descodificado, Maria Madalena factos e mitos, a mentira por trás do código, etc. E a Igreja Católica até veio dar alguns toques à polémica a aguçar a curiosidade das pessoas (se calhar tem comissões nas vendas), ao condenar os trechos que abordam aquela coisada entre o Homem e a Mulher. Todavia uma coisa é certa: o povo gostou e o Senhor enriqueceu. Porque não haja dúvidas que acertou numa rentável fórmula editorial: Cristo Vende! Descanse Vossa Excelência, que se for excomungado como o Saramago (que também já escreveu sobre os amores de Cristo com Madalena), pode ter a certeza que também receberá o Prémio Nobel, não da Literatura, mas da Física, porque descobriu uma forma de transformar merda em folhas!
Com os mais respeitosos cumprimentos,
Croius

terça-feira, setembro 20, 2005

Teste os seus Conhecimentos

Seleccione as castas predominantes nos vinhos do Douro
1. gancia, fita azul, cabernet sauvignon
2. murganheira, raposeira, cabeleira
3. touriga nacional, trincadura, roriz

A cerveja obtêm-se usualmente por
1. mijo de boi destilado com açucar amarelo
2. fermentação das plantas, em ramos, bouquets ou centros
3. fermantação de lúpulo, malte ou cereias

O desdobramento do acrónimo CRF é
1. Casa Refrescos Frescos
2. Companhia Real de Festas
3. Carvalho Ribeiro Ferreira

A tequilla bumbum é
1. uma bomba contra espanhóis
2. uma marca mexicana de bikinis
3. uma bebida obtida pela destilação do cacto

As siglas JB significam
1. Jaime & Baldemar
2. João & Bítor
3. Justerinni and Brooks

O rum é mais apreciado
1. na Fábrica
2. no Sindicato
3. nos barcos de piratas


Se a maioria das suas respostas é do grupo 1, o senhor é uma besta ignara que pensa que os bebés vêm de cegonha desde a França. E Valdemar é com V.
Se a maioria das suas respostas é do grupo 2, o senhor padece de uma doença crónica chamada homossexualidade. E deve ser da Trofa, já que não sabe que Vítor se escreve com V (Paneleiro e da Trofa, que azar!).
Se a maioria das suas respostas é do grupo 3, parabéns, o senhor é um alcoólico, mas um alcoólico instruído.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Carta Aberta ao Sr. Director da NASA

Ex.mo Sr. Director

Ontem estive a arrumar uns papéis lá em casa e encontrei um jornal com a notícia sobre o vosso space shuttle Discovery e do problema com a placa cerâmica do revestimento externo. A minha pergunta é só esta ‘mas o que é que se passa na instituição que Vossa Excelência dirige?’
Como Vossa Excelência certamente sabe, aquele veículo custa 80 (oitenta) milhões (1.000.000’s) de euros (€). E não me venha dizer que num orçamento de oitenta milhões de euros não há espaço para a cerâmica de qualidade. Se não há é por que procuraram mal. De certeza absoluta que a Revigrês, a Sanitana ou até uma Roca poderiam fazer um preço muito mais em conta (se está a pensar na Vista Alegre, esqueça, é bem mais caro. E está-se a falar de cerâmicas, não de porcelanas). Ora francamente, Senhor Director! Até porque tem Vossa Excelência o bom exemplo de quando o marido da Bárbara Guimarães era Ministro da Cultura (agora não me lembro do nome, mas o senhor sabe quem ele é, ele candidatou-se à Câmara de Lisboa) gastou não sei quantos mil contos de rei em louças de quarto de banho.
Mas eu desconfio que vocês andam com problemas. Cá para mim nem é preciso fazer inquéritos, porque de certeza absoluta que trabalham portugueses na sua instituição, para gastarem tanto dinheiro numa coisa que depois apresenta problemas logo à primeira. Procurem bem em frente às máquinas de café ou atrás dos jornais A Bola.
E outra coisa. Porque é que não substituem o combustível que usam que é caro e extremamente poluente e não põe o foguetão a andar a electricidade? Neste caso dever-se-ia chamar electrão! É que se evitava ouvir a conversa do outro dia na Estação de Serviço da auto-estrada quando o vai-vem Discovery lá parou para reabastecer:

Astronauta (ou como diz a Fátima Felgueiras, Austronalta): É p’ra atestar, se faz favor. Aí tem as chaves do depósito. Roda para a direita, está bem?
Gasolineiro: Obrigadinho! Ó chefe, isto aqui é uma bomba do camandro! (e virando-se para o colega) Deve beber para aí uns 25 aos 100, este menino. Os veículos americanos é tudo assim, se tiverem menos de 3500 de cilindrada os gajos lá nem lhes chamam carros, é cortadores de relva (risos).

Agora não pense que eu não tenho nada a ver com isto, porque o dinheiro que vocês derretem assim sem lei nem grei sai dos meus impostos. Ai acha que não? Então repare:
NASA=Administração Bush=Iraque=petróleo=gasolina sem chumbo=opel corsa 1.0=Dr. Croius. Valeu?

Juizinho, homem!

Atenciosamente
Croius

quinta-feira, setembro 15, 2005

Submarino Nau

(A cena passa-se dentro de um dos novos submarinos portugueses em operação de vigilância à costa portuguesa ao largo do cabo da Roca; o capitão e o Imediato consultam a carta marítima colada na parede de acrílico junto ao braço do periscópio, enquanto os técnicos conferem os sistemas de comunicações e de navegação. De repente BOINK!!!!)

Capitão: O que foi isto?
Marinheiro: Isto foi um toque meu capitão!
Capitão: Alguém já nos bateu por trás. E eu que ainda à dois dias levei o submarino à revisão.
Imediato: Mas quem bate por trás é que paga, meu capitão!
Capitão: Ah é? E se o gajo for um traficante marroquino de produtos tradicionais sudaneses feitos à mão em Taiwan? Eu quero ver quem é que vai pagar o conserto! Estou tramado!
Marinheiro: Ó nosso capitão, deixe lá que eu tenho um cunhado que tem uma oficina e arranja peças preços de fábrica!
Capitão: Mas tu sabes quanto custa a óptica traseira deste menino, sabes? Nem a fábrica me safa. E o pára-choques? E a tinta! É que isto não é uma traineira, caramba! Mas vamos lá ver o que é que aconteceu. Emergir! Emergir!
(soa uma sirene)
Imediato: Emergir! Emergir!
(o submarino emerge e o capitão, seguido pelo imediato e pelo chefe da mecânica saem da escotilha; lá fora vêem uma traineira espanhola com a proa toda espatifada e a ameaçar afundar)
Capitão: Ó chefe, já viu o que fez? Anda p’raí distraído e não vê a quantas anda?
Capitán del Pesquero: Hermano, puedes estar descansado que tiengo seguro contra todolos risgos ... Decháme buscar la cartita vierde...
Capitão: El caralhito é que tienes, que nenhuma apólice cobre abalroamento de submarino.
Chefe Mecânico: Bem dito, meu capitão!
Capitão: Chefe mecânico, faça um relatório dos estragos. E vocês, ó Lolitas, que é que andam a fazer em águas territoriais portuguesas a esta hora? A primeira fase do Euro 2004 já acabou à muito (risos da parte dos portugueses) e Aljubarrota já foi à mais de 600 anos (mais risos entre os portugueses).
Capitán del Pesquero: Mira, passaba por aí y no hay visto el submarino, coño, pensaba que los portugueses no los tenían.
Capitão: Mas temos-los e no sítio (sonoras exclamações entre os portugueses). Mas ao que andam por estas bandas? A traficar droga? A tentar invadir as Berlengas? Diz lá!
Capitán del Pesquero: Vamos a camiño de Santiago por mar a cumprir una promiessa que hisgo al Matamoros en uña noche de borrasca!
Capitão: Está bem, pronto. Mas ai de ti se andas a pescar dentro das nossas águas!
Capitán del Pesquero: Quién, yo? Nunca, que me cague una gaviota en la chuletta de ternera!
Capitão: Prontos, não é preciso jurar. Vamos preencher a declaração amigável e fica tudo resolvido! Se quiseres, até te escolto até águas espanholas.
Capitán del Pesquero: Hombre, que cordial eres. Tieno una impressión totalmente diferente de los portugueses ahora.
(Moral da História)
Capitão: ainda há portugueses que não concordavam com a compra dos submarinos!

Até pensei vender a minha casa ...


A época dos incêndios não deu tréguas a ninguém. Mas muito francamente nem percebo porque é que há tanto alarido em torno de umas quantas fogueiritas. Aqui por Viana ardeu toda a serra de Santa Luzia. O fogo deu duro durante dez dias, com acendimentos e reacendimentos. E tanto turista com o pulmão congestionado e o olho lacrimejante da fumarada que caiu sobre as festas da Agonia (o trocadilho que daqui poderia sair, meus amigos) ... mas agora Viana está mudada, até já parece Lisboa: para além de estar assim em cima do rio e de ter uma ponte metálica e outra de betão, trocou o verde Minho que a rodeava por aquela cor mais meridional e mediterrânica, o castanho-merda.
Outro dos factores positivos dos incêndios na região de Viana foi a afluência das gentes aos locais em combustão. De facto, as pessoas mobilizaram-se para junto dos incêndios e até criaram um sistema inovador de apagar o fogo: empunham o telemóvel e capturam as chamas com a máquina fotográfica. O movimento formou longas filas de trânsito recheadas de pessoas ávidas de capturar o fogo. (e Região de Turismo ainda se queixava à tempos da não afluência de turistas...). Da minha casa as chamas viam-se bem, pois está voltada para a encosta e, caramba, o Senhor me perdoe (agora e sei que me acicatou um acesso desmedido do mais egoísta mercantilismo), que até pensei vender a casa aproveitando da melhor forma a subida do valor dos terrenos que os incêndios sempre originam. Agora estou com remorsos de ter pensado em explorar aquelas gentes voluntariosas que em Espanha (esse sim é um país com P grande) já são chamados dos novos heróis, los mirones.