sábado, outubro 22, 2005

HARRY, potter que te pariu

Meu caro amiginho,
Eu sei que estás a passar por uma fase complexa da tua vida, afinal não é fácil ser-se adolescente nos dias que correm. Mas tenho notado que andas meio perdido e como tenho algumas responsabilidades pedagógicas com a juventude, custa-me ver-te a cair na degradação, ainda por cima quando isso acontece em locais como o Panteão Nacional e no Carmo. É que os jovens prodígios tendem em ser mal orientados e depois deixam de ser jovens e de ser prodígios. E está na altura de cortar com essas pieguices, porque assim não vais lá. E para britânicos em crise de adolescência já nos chegou bem o Adrian Mole. Vou-te dar um ou dois conselhos para melhorares a tua imagem.
Primeiro. Deixa Hoggwarts já! Isso é uma escola dos betinhos, é a Eton dos bruxos. Deverias ser mais trash na tua educação, pá. De outra maneira só terás tendência para as camisolinhas de malha a duas cores, o encantamento de vasinhos de flores e ser uma espécie de fada do lar com varinhas mágicas e poções (vê os filmes do Dirty Harry e diz-me se não dá mais resultado ser meio gringo com uma Magnum 45 nas unhas em vez de um betinho com uma varinha). Aos mágicos de hoje são pedido coisas grandes, como atravessar a Grande Muralha, fazer desaparecer aviões, rematar em trivela e esconder os números do défice. Tens de te modernizar, meu. Pensa bem: nos tempos actuais, em que há computadores e metro no Porto, tu perdes tempo a aprender coisadas em latim e a transformar pessoas em sapos? Eles deveriam ensinar-te a esgalhar chaves do Euromilhões. Isso, sim, era magia!
Segundo. Mudar de visual. O teu cabelo tem o potencial do Beckam, mas insistes em tratá-lo como se quisesses tornar-se num decadente com uma trunfa à Nuno Rogeiro. E muda de meio de transporte que as vassouras já não se usam. Compra um aspirador, a scooter dos ilusionistas!
Terceiro. Gajas! Eu reparei que tu desperdiças umas babas para cima da Hermione (e fazes bem, porque ela vai dar cá uma bomba), mas tens de ser mais insinuante. Quando é que te resolves a dar umas trincas na tua coleguinha, hã? Ou não me digas que tu estás mais virado para o Ron? (Esquece, ainda és muito novo para isso). Encostas a rapariga a um canto e sacas-lhe uns chochos; daqui a dois ou três anos (se fosse a sério seria daqui a dois ou três dias) já lhe saltavas ao poleiro!
Harry, Harry: a culpa não é tua; afinal, percebe-se agora que padeces do que a nossa juventude portuguesa: a falta de uma educação realista de alto nível e de progenitores que os orientem na idade do armário. E parece-me que a tua criadora, apesar do ziliões que já lhe deste a ganhar, não se preocupa muito com isso, não é? Olha, amigo Harry, potter que te pariu!
C.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Da Gripe e das Aves

Toda a gente me questiona: não se estará a exagerar a “gripe das aves”? Só porque a passarada molhou os pés e anda por aí a cair como tordos por causa de uma constipação, será razão suficiente para os Telejornais não se calarem com as pandemias, os milhares de mortos e desalojados?
Isto, meus amigos, são manobras do lobbie dos criadores de rebentos de soja para lançar a confusão e acabar de vez com a credibilidade da indústria do frango. O guarda-redes do Sporting e criador de aves em cativeiro Ricardo, já fez saber no seu site frangos.na.net “não pode um futebolista fazer um investimento para o futuro, acautelando-se o desgaste rápido provocado pela profissão, que vem logo os ticoons da soja tentar suprimir o negócio na carne avícola. É que não chegava a cena dos nitrofuranos”). Mas a ser verdade, a situação é alarmante e preocupa-me a veleidade com que se está a encarar esta situação.
Vejamos as FAQ (frequently asqued questions) no meu email:
1º Dr. Croius, toda a gente fala da “gripe das aves”, mas existem certezas? DJ-Ovar
A gripe é um estado gripal despoletado na rápida oscilação térmica do organismo, geralmente após o resfriado. Ora, a passarada anda por aí ao tempo, sem agasalhos mais que uma camada de penas, apanha muito sol na cabeça e depois correntes de ar.
2º Caro Dr.: não será antes um caso de herpes labial das aves? AMFM-Trancoso
O herpes labial aparece geralmente nas galinhas, pois é um bicho que come tudo o que lhe aparece à frente, desde pedrinhas até às minhocas. Com bicos destes, é fácil apanhar doenças.
3º Ó Dr. Croius, o que são os bicos de papagaio das aves? BTT-Bragança
Os bicos de papagaio são problemas de ossificação anormal na coluna vertebral. Quem mais sofre com os bicos de papagaio das aves são, como o nome diz, os galos. É só ver a forma estranha como eles se movimentam. Se não são bicos de papagaio ...
4º E o pé-de-atleta em pés de pato? DZRT-Sintra
Esta doença é frequente no bodyboarder, que não é bem uma ave; se fosse ave era do tipo pavão, por razões de coloração e de pilosidade óbvias. E se tem pé de atleta e empresta os pés de pato, é do tipo pavão-porco.
Como se pode verificar por esta rápida análise, trata-se efectivamente da gripe das aves. E como à partida é contagioso temos de ter cautelas. Um dos meus colaboradores contou-me que a União Europeia preparou um pacote de medidas de prevenção para fazer face ao avanço da pandemia. Uma das mediadas é a introdução da Licenciatura em Aviceptologia* nas principais universidades do Velho Continente, de modo a prevenir-se a multiplicação dos focos de contágio. Esta nova saída profissional, que em Portugal terá bastante procura, até pelos incentivos concedidos pelo Governo de Sócrates aos jovens licenciados desempregados que poderão frequentar o curso em regime de pós-graduação, canalizará grande parte da nossa população activa para o combate à “gripe das aves”. Se o espectro do desemprego deixará de pesar sobre milhares, também é certo que os exporá ao contágio, o que poderá representar um sério revés para o futuro técnico e científico de Portugal e da Europa. Deve ser isto o choque tecnológico. Parece que foi posta de parte a medida preconizada pelo ex-director do Expresso, o Sr. Saraiva, agora EUSA4TKE (Europeen Union Senior Advisor 4 This Kind of Emergencies) de pulverizar a Sibéria com Cortigripe misturado com Aspirina C.
Mas o problema maior poderá incidir na sociedade civil. Todos sabemos que a caça (cinegética enquanto ócio) é o refúgio da genuína virilidade (ultimate-macho-man, em americano); como é que esta importante minoria étnica se vai comportar quando se começar a entender que o grupo de homens que anda pelos montes de arma na mão é um dos grupos de risco para incubação=transmissão de uma doença que pouco se conhece e cujo estafermococus mais conhecido se chama H5:M1? Porque me lembro perfeitamente de ter morrido o António Variações que era cabeleireiro e na altura também havia aparecido um certo HIV que provocava uma doença fatal de transmissão duvidosa, em que os cabeleireiros eram um dos grupos de risco.
Meus amigos, se por um lado se percebe que a História se repete ou, como se diz entre o povo, a vida dá voltas e mais voltas, por outro, a existência desta nova doença faz com que a falocracia se depare pela primeira vez com a irreversível espiral do extermínio. A espécie humana poderá estar à beira do FIM.

* Diccionário do Dr. Croius: Aviceptologia, s. f - é a arte de apanhar aves com laços e armadilhas.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Rerum Politicae II - Ab Scrutinium

O Homem é um Animal Político
Rosseau

Rui Rio é uma Besta Política
Anónimo SD Cerco

Perante as recentes eleições realizadas em Portugal, penso que a partir de agora os escrutínios deveriam ser efectuadas através do método do “braço no ar”. Este método ancestral de escrutínio consiste na erecção de um dos membros superiores quando em concordância com a questão colocada. Por oposição ao voto secreto, este é o voto desvelado. Após apurado estudo, julgo ter sintetizado os principais problemas do sistema eleitoral português e seus sucedâneos, a saber, falta de dignidade do processo de escrutínio, desmotivação dos cidadãos para a política e consequente alta taxa de abstenção. O Sistema Braço No Ar (SBNA) representa a solução perfeita para estes problemas.
O actual processo de escrutínio é deselegante. Atente-se à figurinha usada em Portugal para o cidadão poder exercer o seu dever cívico: depois de recenseado, tem de levar com duas semanas de campanha; no dia da eleição aguarda na fila em frente da urna de voto até chegar a sua vez para, à socapa e a coberto de um nicho, inscrever uma cruz numa quadrícula de um papelinho, para depois o inserir dobrado em quatro numa ranhura; no final do dia, os camelos que perderam um Domingo perfeitamente saudável atrás da caixa negra ou a fazer a cacicagem da caça ao voto à boca da urna contam os papelinhos e pronto, já está. Nada mais económico e confortável. Mas isto não é nada. Não é assim que se mobilizam os portugueses para a Política.
O SBNA traria ao processo eleitoral uma clara poupança de tempo e dinheiro, para além de garantir a adesão do cidadão à Política e às votações. É que o SBNA apela aquilo que é mais primitivo no Homo Politicum: a inveja. Passo a explicar.
Este sistema só poderia funcionar com recurso à concentração dos cidadãos recenseados em determinado local amplo, nunca segundo o processo de inquirição pessoal. Nem tão somente existiria compatibilidade com a egoísta real gana do cidadão em comparecer junto às urnas de voto à hora que lhe apetecesse. O presidente da secção de voto determinaria um local e uma hora onde os recenseados se reuniam; após uma necessária confirmação de aptidão para o voto por parte dos eleitores, apresentavam-se os candidatos. Era nesta altura, e só aqui, que se apresentavam os respectivos programas, isto é, que o eleitor tomava contacto com a campanha. O dinheiro que se poupava em cartazes e autocolantes. De seguida o presidente da mesa nomearia os candidatos e os cidadãos levantavam o braço mediante a sua preferência. Deste modo não haveria espaço para “eu nunca prometi isso”, nem o típico “faço, desfaço e aconteço”, porque a turba tem a memória longa. Era o início da reabilitação do Político. Assim, neste sistema as pessoas iam votar por duas razões: 1ª para ver se os vizinhos iam votar e em quem e para os vizinhos os verem a votar, o clássico ver e ser visto; 2º no caso do vizinho se candidatar, ter oportunidade de se candidatar também. A participação e abstenção estariam desta forma comprometidas, visto que o português anda sempre a controlar o vizinho.
É certo que este método acarretaria algumas desvantagens que, bem entendido, se traduziriam maioritariamente em problemas do foro logístico. Mas nada de grave. Pode-se dizer que um dos principais inconvenientes seria do foro psicológico, pois o cidadão ver-se-ia confrontado com a dramática tomada de decisão/ acção aos olhos dos outros, mas acabaria-se de vez com a frase muitas vezes ouvida “eu não votei nesses gajos” nem com a famigerada "se ninguém votou neles, como é que eles ganharam as eleições?". A questão dos espaços e das horas de reunião também poderiam ser problemáticas e gerar a abstenção, mas se ao mesmo tempo da votação se programasse uma sardinhada regada a vinhaça (sumos e fêveras para quem não gostar), a abstenção seria automaticamente suprimida. E se a eleição estivesse prevista para o Verão? Fazia-se na praia! E se estivesse a chover? Fazia-se nos Estádios do Euro; seria a melhor forma de reabilitar a torpe relação entre a Política e o Futebol!
Estou em crer que a generalização do Sistema Braço No Ar (SBNA) garantiria a resolução destes graves problemas que infectam a vida política e, portanto, os políticos portugueses. A Política em Portugal está descredibilizada por falta de erecção. E lá diz o anúncio “Sabia que um Homem demora em média 4 anos a admitir sofrer de disfunção sexual?”. Olha que ele há coisas ...
C.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Decálogo Para Uma Candidatura Presidencial

Porque a Presidência da República é a única instituição política portuguesa que deriva da perfeita Democracia, isto é, parte do sufrágio directo e não de merdices representativas, e porque é livre a qualquer cidadão com mais de 35 anos desvinculado de qualquer partido político, aí vão alguns dos requisitos necessários ou se calhar as dez (daí decálogo) condições necessárias (mínimo de três) aos que almejam cama e pequeno almoço no Palácio de Belém durante os próximos 5 (ou quem sabe 10) anos.

1º Ser vocalista dos Ena Pá 2000 ou dos Irmãos Catita e levar as assinaturas em cima de um burro.

2º Ser de esquerda e não gramar o Mário Soares.

3º Ser canhoto e não gramar os dextros.

4º Ter mais de 80 anos e não saber o que fazer para ocupar o tempo.

5º Ser ambidextro.

6º Ser ex-ministro da defesa, neto do Sacadura Cabral e não gramar o Cavaco Silva.

7º Ter no curriculum as palavras Resistência+Argélia+ Nambuangongo+Poema para Figo.

8º Pertencer a um partido que tem Esquerda na denominação e ir a votos só porque o dirigente do partido rival também vai.

9º Pertencer ao MRPP (Partido das Bombas, como diz o meu pai), ser advogado e ter um corte de cabelo fora de moda desde 1932 (atenção Sr. José Manuel Durão Barroso, o senhor já preside à Comissão Europeia e já não faz parte do MRPP, por isso tire o cavalinho da chuva).
10º Ter sido 1º Ministro Português entre 1975 e 1995 e andar mortinho por aparecer, apesar de ser um tabú.


Se achas que tens a 4ª Classe (a antiga) e desejas servir a tua Pátria, concorre já! A República precisa de ti! C.


Comunicado em Rodapé
A redacção do weblog Salmoura, por intermédio do seu Provedor do Leitor, vem por este meio esclarecer que a palavra Bomba foi colocada no texto segundo uma lógica de sarcasmo para com um partido político português e não de ofensa ou ameaça para os EUA. Acrescente-se para melhor entendimento que onde se lê MRPP dever-se-á ler Movimento Revolucionário "o Pum Pum". Portanto, sr.s da CIA, vão-se nicar se me estiverem a ler através do vosso sistema de referências cruzadas por palavras suspeitas. O Provedor

quinta-feira, outubro 06, 2005

Rerum Politicae

Os meus amigos sabem que este espaço não costuma ser ocupado com mariquices em torno da política, do futebol e mesmo da religião. É um espaço isento. Este pequeno introito serve para lavar a cara do que se falará à frente, o que o título bem consagra. Assim, não se tratará da Política, antes das coisas da Política, o que é manifestamente diferente. Falo, é claro, de campanhas elucidativas do que os principais partidos, qual o mais infeliz, estão apostados a fazer. Assim vai a Política em Portugal.

#1. Manuel Maria Carrilho. O candidato PS à Câmara de Lisboa parece que foi escolhido segundo aquele sistema do pauzinho mais pequeno (ahahahahaahaha), por tão ridículo. O menino enfezadinho até parece que foi metido à pressa dentro de um fato Armani. Mas o Prof. Carrilho é bom para debates à base do insulto, se bem que lhe faltava um estagiosito aqui pelo Norte para aprender uma bocadinho de retórica de mercado. O maior trunfo da sua campanha, a futura primeira dama Bábá Guimarães só dá que pensar: ela escolhe-lhe as roupas para o dia seguinte, como qualquer esposa devotada; ele escolhe-lhe as leituras, sugere as adjectivações a utilizar no culto programa televisivo que ela apresenta e explica-lhe que Schopenhauer era um filósofo alemão e não o termo germânico para mamada prolongada (chupen+hour).
#2. Do PSD só me dá para reflectir sobre isto: o Alberto J. Jardim ameaçou que se o PS ganhar na Madeira não haverá verbas para ninguém; já tardava o tempo da chegada da Democracia ao nosso enclave separatista.
#3. Só há uma palavra que consegue sintetizar as acções de campanha da CDU: previsível. Se as quiser evitar, não apareça à porta de fábricas durante os próximos 237 anos.
#4. Uma coisa é certa: dá para ver que as festas do Avante (do PCP) serviram para alguma coisa: pelo menos inspiraram a campanha do Bloco de Esquerda, pois trata-se de uma campanha eclética, longe do cinzento que colora as demais campanhas. Exemplo: já lá vi peças de teatro de rua, ganza, circo, marionetas, karaoke político estilo DVD’s Louçã (não confundir com K7’s Cunhal), música alternativa e marijuana. Sim senhor. Um exemplo. E tudo gratuito.
#5. A campanha do CDS-PP é, por seu turno, antipoda da do BE. É coerente e homogénea. Bem dentro daquilo que ficou escrito no manual de campanhas do seu Grande Timoneiro, A Arte da Feira, a guerra autárquica deve ser levada às feiras e cada combatente equipado do M64 político, a saber, sacola com calendário+ programa +poster +esferográfica + autocolante, sem mais artifícios que não seja aquele ar de gajo a quem lhe atiraram uma peruca manhosa à foda-se para cima, e aí vamos nós! Alguém tem é de lhes explicar que os feirantes não votam, porque também se fazem feiras aos domingos.
Até Amanhã, Camaradas, como dizia o defunto Manuel Tiago.
C.