domingo, dezembro 30, 2007

Guerra nas Estradas

Os números da Operação "Ano Novo" da Brigada de Trânsito da GNR: cinco mortos, doze feridos graves e trinta e quatro feridos ligeiros.
Não desistam. Necessitam só de melhorar um pouquinho a pontaria.

sábado, dezembro 22, 2007

Não fosse...

Não fosse a confusão no acesso das pessoas às caixas, não fosse a complexidade do sistema de colocação dos produtos nas balanças e dentro dos sacos que devem ficar sempre naquelas armações, não fosse o aparato repressivo da dupla composta pela assistente de vendas e pelo segurança que vão dizendo "não pode fazer isto" e "não pode fazer aquilo", não fosse a confusão de ranhuras e de lasers que o utente nem sabe por onde deverá passar produtos e cartões, não fosse a vozinha da máquina que nos dá constantes atestados de burridade repetindo "passe o produto e coloque-o no saco", "passe o produto e coloque-o no saco" e não fosse o facto de não ser aconselhável a utilização a quem leva mais de três produtos, as caixas self-service do CONTINENTE até seriam uma bela invenção.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Finalmente

Finalmente!
Até que enfim que alguém faz algo contra os grupos de criminosos que têm vindo a provocar a onda de insegurança no Norte. Tudo pró buraco. Cambada de meliantes. Forca ou fogueira com eles.
Sinceramente não percebo porque é que ninguém fazia nada, já que eles estavam ali, à vista de todos e bem debaixo das barbas da polícia, muitas vezes em fila, à espera de entrar pelas varandas dos apartamentos, onde montavam escadas feitas com mangueirinhas de iluminações.
Justiça!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Tudo corria pelo melhor...

Tudo corria pelo melhor naquela viagem de eléctrico entre os Jerónimos e o Museu do Coche. Os chefes de estado membros da União Europeia repartiam galhofas e sorrisos, satisfeitos que estavam com o desfecho do Tratado. Mas eis que chega o revisor e começa a pedir os bilhetes...

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Corrupção

Corrupção: (s.f.) do lat. corruptione; acto ou efeito de corromper; podridão; suborno; designa genericamente acontecimentos ilícitos verificados no Porto, mas podendo significar coisas perfeitamente normais, quando ocorridas em Lisboa.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Diário Tecnológico #2

6 de Dezembro de 2007
Foi anunciado hoje, com pompa e circunstância, a participação portuguesa com tecnologia de ponta na nova missão espacial norte-americana Atlantis. Segundo o RP da empresa responsável pela concepção da “tecnologia”, a
EFACEC, trata-se de um aparelho que “serve para medir” (sic) qualquer coisa relacionada com a órbita terrestre, constituindo um importante contributo da tecnologia nacional para o sucesso daquela missão espacial.

Depois do sucesso do contrato de fornecimento de agrafos alcançado pela Papelaria Meireles junto da NASA que muito contribuiu para a segurança e estabilidade das folhas de papel nas mãos dos astronautas entorpecidas pela acção da gravidade, a produção científica made in portugal alcança assim um novo êxito pela introdução das réguas de acrílico molin 40cm no programa espacial norte-americano.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Bom Português

Ontem, no “Bom Português” que passa na RTP de manhã, perguntava-se às pessoas “Na frase Preciso de colocar cartuchos na impressora, como se escreve cartuchos? Com “ch” ou com “x”?
Esta palavra homófona é tão interessante como confusa, como se pode aferir pelo exemplo escolhido , por dar azo a ambiguidades.
Cartucho (para espingardas, castanhas ou, como se exemplificou, para impressoras) escreve-se com “ch”. Cartuxo com “x” é relativo a um frade da ordem da Cartuxa
. Mas na frase “preciso de um cartucho para a impressora” é lícito responder, no meu entender, tanto cartucho com “ch” como cartuxo com “x”.
Na Idade Média as impressoras eram os scriptoria onde os monges copiavam os livros, por isso era frequente ouvir os abades dos mosteiros dizer em alturas de maior necessidade de produção de cópias “Preciso de cartuxos para a impressora”.

E esta hein?

sábado, novembro 24, 2007

Motivação para Mendigar

Um mendigo pede esmola numa das ruas pedonais de *****, ostentando um ombro onde outrora esteve um braço inteiro, gemendo no tom dos mendigos,
- Uma esmolinha para o aleijadinho, Deixe uma esmolinha para o aleijadinho...
e de repente grita com voz potente
- Maior, olha aí um isqueiro!
O tabaco é, como se verifica, o melhor dos estimulantes.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Um Gangster Português

Dois homens conversam numa mesa de um bar, quando um rapaz, aparentando 16, 18 anos no máximo, os aborda com ar ameaçador
- Tu não és primo do [Fulano]?
- Sou.
- Hás-de dizer ao teu primo que tenha muito cuidado... - dizendo isto vai com a mão ao bolso traseiro das calças, enquanto os dois homens ficam crispados com a situação,ao que o rapaz tira a carteira do bolso.
- ... porque da próxima vez, a coisa vai-lhe correr muito mal, entendido?
Os dois homens ficam especados a olhar um para o outro. Depois o primo do [Fulano] diz
- Eu nem te conheço, nem sei do que estás a falar; põe-te mas é a milhas! Ala, desanda!
O rapaz, com um sorriso superior, esclarece então
- Eu sou conhecido por O Mijinhas...
E disse O Mijinhas como se Mijinhas estivesse escrito em itálico e o "O" com maiúscula
- Por isso, da próxima já sabes...
E foi-se embora.

O Mijinhas, temível gangster português reconhecível pelo forte odor a urina.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Machos, Saias e Gaitas

Os Escoceses. Barbas, dentes feios, olhar duro, machos a sério; as mulheres adoram o clássico ar de cavalo fedorento. Numa palavra: maricas.
Braveheart, por exemplo. Relato romanesco da sedição escocesa dos finais do século XIII, mostra raivosos e barbudos escoceses na sua caminhada para a guerra fardados como meninas colegiais, com as suas saias de padrão, fardas militares é certo, afinal os kilts são cor verde-tropa. E as gaitas de foles para dar motivação...
Dentro da mesma linha temos a forma como são caracterizados nos anúncios da William Lawson's. Os maoris coreografam um haka e os escoceses, pimba, toca a levantar a saia.
A cara do maori é inenarrável, pensa decerto, "Chiça, ainda bem que lá em Tuvalu é quente, porque senão, ficava aqui como o escocês, mirradinho que nem uma azeitona".
É de macho, ir para a guerra de saias, ao som de gaitas...

sábado, novembro 10, 2007

De Rerum Patinorum (Acerca de Patins)

Hoje de manhã (seriam já 12h15m, mas ainda não tinha almoçado, portanto...) estava a ouvir o programa da A3 Nuno e Nando, (depois coloco aqui o link para o podcast) em que F. Alvim e N. Markl orientavam uma entrevista muito interessante com duas meninas interessantes (tudo muito interessante), a Mitó e a Susana Félix.
Confesso que gosto deste programa por ser uma espécie de filme pornográfico: é prazenteiro a um nível sórdido que chega a ser de legalidade questionável, tem sempre muita gente a participar (dois pivôs + J. Botas + dois convidados), mas com a peculiaridade de se afastar do hardcore por não ter tempos mortos, pois Nuno e Nando padecem de Horror ao Vazio, como se diz em Arte ou para os menos familiarizados com estes termos, simplesmente não conseguem fechar a matraca.
A certa altura
...

… o Alvim dizia qualquer coisa sobre a sua idade, do tipo estarem mais velhos, etc., e o Markl confidenciou então às meninas que eles (Nuno e Nando) são «DO TEMPO EM QUE OS PATINS AINDA TINHAM RODAS».

Eu também sou desse tempo. Que tempos esses. Isso é que eram patins. Não é como os de agora. Estes nem merecem o nome de patins, antes o que são, meros feet-overcrafts. Desculpem-me o perfeccionismo, mas temos de dar sentido aos termos que utilizamos. Porque os patins de rodas já só se vêem em museus e os praticantes de hóquei e de patinagem artística andam em cima de pequenos overcrafts que calçam em cada pé! Esses desportos também precisam de renomeação, respectivamente para hóquei em overcrafts e overcrafting artístico.

E as saudades que eu tenho (chamem-me revivalista) de um bom desafio de hóquei à antiga portuguesa, o hóquei em patins puxados por parelhas de cavalos. Ah, dá-me cá uma saudade...

terça-feira, novembro 06, 2007

Crónica de uma Morte Equacionada

Intróito

Os sucessos apresentados de seguida ocorreram há dois anos atrás. Há muito tempo que queria transcrever para aqui esta pérola da minha existência, mas precisei de algum distanciamento temporal (uma espécie de período de reflexão semelhante ao verificado entre campanhas eleitorais e o acto eleitoral em si, só que em maior escala), para que eu pudesse cumprir uma certa organização das ocorrências verificadas. Como à frente se depreenderá, a qualidade e complexidade dos acontecimentos exigem um texto concomitante com a acção desenvolvida, por isso difícil de alinhar, para que os dois leitores regulares deste espaço se possam deleitar com a magnitude do acontecimento. Para se preservar o encadeamento da acção resolvi apresentar as versões dos dois principais intervenientes, isto é, eu próprio e a minha mulher, à medida que a acção vai discorrendo.


Como eu recordo os acontecimentos...

Cheguei a casa e fechei a porta à chave. Como já eram umas 4h30m, despi-me na sala para não acordar a minha mulher. Depois das rotinas higiénicas com gestos furtivas como os dos caçadores, deitei-me, mas a minha mulher não estava na cama. Só então me lembrei que ela tinha saído com as amigas. Fechei os olhos e adormeci.
Sinto que alguém me puxava por um pé e sacudia a minha perna. Abri os olhos, mas a luz do candeeiro não me permitia distinguir nada. Fechei os olhos outra vez. Então ouvi claramente
- Chefe! Chefe!
Abri os olhos e deparei-me com um bombeiro que me segurava no pé, à direita dele estava um polícia, mais para a direita o meu vizinho do 4º Dto., à entrada do quarto estava o meu vizinho do 2º Esq. e ao lado da cama, com os olhos assustados estava a minha mulher. Disse o bombeiro
- Então chefe? Chegava cá um ladrão, roubava tudo e você nem se apercebia.
Eu, nem pio. O coração cavalgava ferozmente no meu peito para que pudesse dizer algo. Lá me sentei na cama, olhei para a minha mulher que agora chorava de alívio, puxei-a para mim para a acalmar e o meu vizinho do 4º Dto. disse
- Então pá, a tua mulher aqui preocupadíssima e tu não acordas?
Esmagado por aquele quadro de fardas e pijamas escabrosos que nem o Rudolf Nureyev se atreveria a vestir, só consegui articular
- Eu... eu estava a dormir.
Lembro-me de dar os meus dados ao agente da polícia à porta do apartamento, descalço e a tiritar de frio, ou de susto, de adormecer outra vez... não me lembro de mais nada.


Como a minha mulher viveu os acontecimentos...

Quando cheguei a casa faltava pouco para as 5 da manhã. O meu marido esqueceu-se de retirar a chave da fechadura, por isso não consegui abrir a porta. Ele estava em casa, ouvia-o ressonar no quarto. Toquei à campainha umas dez vezes, rezando para não acordar os vizinhos, mas ele não acordou. Telefonei então para o telemóvel dele, mas só conseguia ouvir o telemóvel a tocar na sala e a dar sinal de bateria em baixo. Comecei a ficar nervosa. Telefonei então à minha mãe e ela disse-me para ter calma e ir dormir para casa dela, que de manhã voltava para casa. Mas eu resolvi continuar a tocar à campainha.
Apareceu então o vizinho do 4º Dto. atraído pelo barulho, já que se levantava bem cedo para trabalhar. Expliquei-lhe que o meu marido deveria estar a dormir profundamente
- Ou então...
- Então o quê? - disse eu.
- Deve estar com uma cardina... ele de vez em quando bebe uns copitos...
- Pois - disse-lhe eu - se calhar esteve no café até às tantas...
- É melhor chamar os bombeiros, pode acontecer alguma coisa...
Concordei e chamei então os bombeiros. Como precisam sempre da presença da Polícia para presenciarem a entrada na casa das pessoas, chamou-se também a PSP. Chegaram bombeiros e polícia e nesta altura já todos os vizinhos da nossa entrada estavam despertos e a juntarem-se no hall do prédio. Eu já não podia com a vergonha.
Tanto os agentes da PSP como os bombeiros trataram logo de me tentar acalmar, já que eu era agora familiar de uma potencial vítima.

Bombeiro: O seu marido tem problemas de saúde? É cardíaco?
Eu: Não.
Agente da PSP: A senhora discutiu com ele?
Eu: (estranhando) Não!
Agente da PSP: (insinuante) De certeza? É que ele poderá estar a evitar que a senhora entre em casa.
Eu: Mas...
Agente da PSP: Ou então ele poderá estar com outra pessoa em casa...
Eu: (estupefacta) O quê, com uma amante?
Agente da PSP: Já aconteceu...
Eu: (incrédula) Não acredito nisto.
Bombeiro: De qualquer maneira temos de entrar em sua casa; é que um dia fomos chamados para uma situação semelhante, em que um senhor parecia estar a dormir e não acordava e quando arrombamos a porta verificamos que ele tinha tido um derrame cerebral e roncava como se estivesse a ressonar. Morreu a caminho do hospital.
Eu: (estarrecida) O quê?
Bombeiro: Vamos tentar acordá-lo, senão, temos de pedir a escada MAGIR.

O bombeiro começou então a dar fortes pancadas na porta entremeadas com gritos de
- Ó Senhor Croius, Ó Senhor Croius.
E ele sem acordar, sempre a ressonar, ou a roncar...
Chegou então o camião com a escada Magir, uma daquelas escadas extensíveis, que fazem muito barulho
- Trec Trec Trec
Nesta altura todos os vizinhos da rua estavam já acordados e à janela, eu nem conseguia pensar em nada, num misto de pânico e de vergonha, e um bombeiro do cimo da escada Magir com um megafone a orientar o operador da escada que estava em baixo
- Mais para a esquerda
Trec Trec Trec
- Mais para a direita
Trec Trec Trec
Enfim, lá encostou a barquinha da escada à varanda, entrou em casa pela cozinha e abriu-nos a porta, os meus vizinhos a dizerem-me para não entrar, porque podia ser grave e eu só queria entrar e ver o meu marido e quando lá cheguei já tinham acendido a luz e ele estava
placidamente adormecido e o bombeiro a chamar por ele
- Chefe! Chefe!
E ele abriu os olhos e voltou-os a fechar, depois abriu-os com um ar assustado, puxou-me para ele e o meu vizinho do 4º Dto. disse
- Então pá, a tua mulher aqui preocupadíssima e tu não acordavas?
E ele só conseguiu dizer
- Eu estava a dormir.

Hoje recordo com nostalgia aquela madrugada de 2005 como "O Dia em que fui acordado por um bombeiro, um polícia e o meu vizinho do 4º Dto. vestido como um índio e não era um videoclip dos Village People".

segunda-feira, outubro 29, 2007

Já só faltam...

Já só faltam cinquenta e seis dias para o Natal!!!
Ora bem 56 dias:
5+6 = 11
11 pode ser 1+1 = 2

Deve ser este o cálculo cabalístico que as associações de comerciantes e municípios fazem para colocar as iluminações natalícias: dois meses antes.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Diário Tecnológico

4 de Setembro de 2007:
Caminho de Santiago, Pontevedra - Padrón (34 Km)
Lá consegui consertar o espigão da bicicleta em Caldas de Reis, depois de ter partido a cavilha de amarração antes do Barro. Encontrei uma loja de reparação que estava a vender bom material ao desbarato por motivos de liquidação total (Total Carnificine).
Saí de Caldas em direcção ao Padrón e após uns cinco quilómetros, cheguei ao tasquinho onde já é tradição parar-se para descansar e carimbar a credencial.
Estava outro peregrino na bodega a beber uma meia de leite. (Foi aqui que encontramos no ano passado a Ann, uma enfermeira canadiana que estava a fazer o Caminho Português, depois de já ter percorrido os 900 quilómetros do Francês. Ah, com 60 anos).
O casal de velhotes que explora o tasquito é muito simpático e conversamos um pouco; pedi uma água fresquinha e um kit-kat. Quando paguei, pedi à senhora que juntasse à conta os dois cafés que o meu primo e o meu irmão lá ficaram a dever no ano passado, quando vinham de León. Contas à moda do Porto.
Mais à frente, ao passar pelo peregrino, parei para falar com ele. Alemão, estudante de Informática e Sistemas, veio para a Santiago para trabalhar nas vindimas durante as férias. Como ainda não tinham começado naquela região disseram-lhe para tentar no Porto. Chegou lá na última semana de Agosto.
- Mas vindimas só começam em meados de Setembro, disse-lhe eu.
- Eu agora sei isso, mas quando saí de Hamburgo nem tinha pensado nesse pormenor.
No comments.
Lá me contou que resolveu fazer o Caminho desde o Porto, porque tinha de voltar a Santiago para apanhar o avião e assim não desperdiçava os dias que lhe restavam. Caminhava à cinco dias, numa média impressionante de 35 a 40 km/dia, bem carregado e a bom ritmo. Ia completar o percurso em seis dias e sem qualquer preparação.
Perguntei-lhe então que tal estava a ver o caminho enquanto espaço cultural, monumental e patrimonial.
- Eu estou a gostar da experiência, da paisagem, das pessoas, mas como não sou muito cultural, tudo isso dos monumentos, dos museus e das igrejas passa-me um bocadinho ao lado.
Passamos o resto dos quilómetros que faltavam até ao Padrón a conversar sobre Defesa Nacional e Linguística Castelhana (isto não é cinismo, é a mais pura verdade).

25 de Outubro de 2007
Estou à espera pela minha mulher num dos cafés do centro de Viana do Castelo. Estão mais três clientes no café, sentados ao balcão, para além dos dois empregados. Na televisão o jogo Bolton vs Braga. Surpreendo a conversa nestes termos.
“- Olhe que eu acho que o Airbus é melhor que o 747, tem mais capacidade de manobra, é mais versátil. Ainda no outro dia estive a ler as especificações técnicas do aparelho; olhe que fiquei muito impressionado.

- Mas o acidente em Congonhas não foi com um Airbus?
- Foi, mas não podemos atribuir as culpas ao aparelho; o piloto aterrou em excesso de velocidade e em Congonhas, já se sabe, é muito perigoso, com aquelas construções mesmo em cima da pista
...”.
Paguei o café, levantei-me e saí, gritando em plenos pulmões do meu pensamento:
ISTO ESTÁ VIRADO AO CONTRÁRIO!!!!!

quarta-feira, outubro 24, 2007

Vida Académica

"Continuam as matanças de gatos, à mocada, cá na República. Uma selvajaria. Só quem assiste a isto pode avaliar o que é um homem primitivo. Não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada."

Miguel Torga, Diário, 1 de Março de 1933

segunda-feira, outubro 15, 2007

Esquerda ou Direita?

No outro dia fui fazer umas análises, para ver como está o funcionamento da máquina e para calibrar a minha compatibilidade antropométrica com possíveis doações, actividade desportiva, medicina do trabalho, etc e beltreca.
De madrugada, depois de embalar urina fresca no recipiente de recolhas, lá me dirigi em jejum como manda a legislação da colheita de análises para a clínica. Ali fui recebido por um daqueles técnicos de ar dantesco, outrora frequentes nas morgues e nos hospitais psiquiátricos dos anos 50, que preencheu enfadado o formulário após o que me conduziu para a “sala de colheitas”, nome tão pomposamente rural e descabido para aquele sítio, porque mais valia o nome “sala de tortura” ou “sala da cadeira e da marquesa”, já que lá só existia uma cadeira e uma marquesa.
Apontou-me a cadeira, daquelas forradas a napa preta, com um único apoio para o antebraço do lado esquerdo. Tirei a camisola e sentei-me. Como o técnico se colocou à minha direita, eu enrolei a manga direita da camisa e estiquei o braço dextro, esperando que ele acabasse de colar as etiquetas com os códigos de barras numa série de pequenas provetas. Findo esse trabalho, volta-se para mim, olha para os meus braços e pergunta
- Qual é o braço que prefere, o esquerdo ou o direito?
Eu ainda indico com os olhos o braço direito previamente desnudo até cima, mas ele desvia-se com um
- O esquerdo? Pois muito bem, ponha lá o bracinho à mostra.
Eu, esmagado com a capacidade de persuasão do meu olhar, lá enrolei a manga esquerda, ficando de mangas arregaçadas, ao que o tipo atira
- Pois é, parece que chegou o tempo fresco!

"NEM DE PROPÓSITO, CARALHO", quis-lhe dizer, mas só me saiu
- É o tempo dele.
Poderemos extrair uma certa moralidade desta experiência, para além da temática meteorológica que o português tanto aprecia quando não há assunto.
Valerá mais um esquerdo apoiado, que um direito arregaçado.

Croius

segunda-feira, julho 30, 2007

Uma Questão de Propriedade

Propriedade. É disto que se trata. A César o que é de César.
Grandes e inusitadas cheias na Grã Bretanha e a Direcção de Informação da RTP envia logo NOÉ Monteiro para efectuar a cobertura da enchente, com barbas brancas e tudo. Transcendência e rigor de proporções bíblicas. O Serviço Público está a dar a volta por cima. Assim vamos lá.

quarta-feira, julho 04, 2007

Futebol, esse grande espectáculo de cor...

Estou mortinho por ver o Nuno Gomes enfiado no novo fato de bailado do Benfica. De maillot cor de rosa, com pointes e um tutu, ai ninas, que elegância no pas de golos.

sábado, junho 23, 2007

Quanto vale a vida humana...

Há oito anos, numa véspera de S. João, apercebi-me o quanto vale a vida humana. De certo modo existe um fio de ironia na forma como, em ambiente tão festivo e popular, se conseguem observar as pequenas evidências filosóficas que norteiam a nossa parca existência. Este paleio parecia mesmo letras do J-P. Sartre.
À volta da rua onde eu morava existiam ilhas (para quem não sabe o que são, procurem num dicionário de urbanismo ou vão ao Porto e perguntem por lá o que é, menos na Câmara, porque eles dizem logo não existem) e por alturas do S. João reuniam-se os seus habitantes num animado bailarico ali defronte da maternidade Júlio Diniz. Era animação até às tantas.
Eu mais oito rapazes da casa tratamos de participar, até porque habitantes do distrito, não éramos estranhos àquela gente. E também era uma oportunidade para engatar as meninas da residência feminina vizinha que mais parecia uma congregação de freiras com recolher obrigatório às dez horas todos os dias, mas porque aquele dia era tão especial, elas tinham licença para sair até à meia-noite. E todos sabemos o que é uma mulher presa quando se apanha solta.
Iam-se embora as meninas, suadas de dançaricos e de outros folguedos, mas nós ficávamos; apontávamos então os canhões para o magote de velhas a cheirar a peixe e sardinhas e novas desdentadas com olhos de droga e passávamos a noite a dançar e a rir, entrecortando o bailado com vinho das tascas, sardinhas e cervejas.
Num deses intervalos, um dos nossos, entusiasmado com a festarola tão típica e genuína, chegou-se a uma daquelas roulottes e resolveu pagar uma rodada aos seus camaradas e aos restantes presentes
- Sai aí doze cervejas fresquinhas, qu'eu pago, caralho!
- Ah leão, dissemos nós, dando urros de alegrias.
Nisto, os três indivíduos que não pertenciam ao nosso grupo, de aspecto indizível e caras entremeadas de pólvora e fósforos, abeiram-se de nós, envolvem-nos com os braços apertados pelo pescoço e o principal deles atira
- Meus amigos, generosidade destas não se esquece; se um dia precisarem de alguma coisa, de apagar alguém, ou assim, estámos à vossa disposição. Basta chegar aqui e perguntar pelo (...)
A vida humana valia, à altura, uma cerveja; hoje, devido à correcção monetária e à subida das taxas de juro, vale um pack de seis.

sexta-feira, junho 01, 2007

A Suar Dinheiro

Interessante esta nova tendência das grandes marcas se associarem a atletas de alta competição para assim promoverem os seus serviços. Cristiano Ronaldo no BES. Também na banca anda o alpinista João Garcia. Já Nélson Évora (triplo- salto) e Nuno Merino (ginasta) fazem campanha por uma bebida energética. E lembram-se quando Francis Obikwelu acelerava no serviço 8 mb de internet para ser vencido por uma velhinha? E a Dora Gomes que fazia a publicidade a tampões OB? É que agora faz à Tampax!
Tudo oportunidades, mas existem falhanços. A Epilady falhou um autêntico Euromilhões ao não aproveitar o antes/ depois do bigode da Fernanda Ribeiro. E Vanessa Fernandes , a heroína do momento, ainda não foi repescada para o mundo do marketing desportivo. Mas não tarda muito que se veja um filmezinho na TV onde ela, depois de nadar, pedalar e correr cortará a meta e dirá, com aquele sorriso de arame:
"As pessoas perguntam-me como é que eu aguento as virilhas assadas de tanto andar por aí a correr em fato de banho. Respondo-lhes com Margarina Vaqueiro. Os assados saem sempre bem".

segunda-feira, maio 28, 2007

Duas verdades sobre o Futebol

1. Num restaurante, o cliente em conversa sobre futebol com o empregado de mesa confidencia:
"Eu não sou fanático, mas já andei à pancada".

2. Nos 20 anos da conquista da Taça dos Campeões Europeus festejada há dias pelo FC Porto, um jornalista televisivo atira a respeito dos Heróis de Viena
"Estes jogadores, vinte anos depois, estão vinte anos mais velhos".



INSOFISMÁVEL.

terça-feira, maio 08, 2007

Portugueses na Literatura Estrangeira II

Tal como foi escrito no post Portugueses na Literatura Estrangeira, dá-se nova entrada a propósito da caracterização do povo luso nas letras do mundo, desta feita no livro do grande e rubicundo Umberto Eco, A Ilha do Dia Antes,

2. Umberto Eco (Itália), A Ilha do Dia Antes, DIFEL, p. 265:

"Por exemplo em Macau, ah Macau, bastava só o pensamento daquela aventura para o padre Gaspar se transtornar. Era uma possessão portuguesa, os Chineses chamavam aos europeus homens de nariz comprido exactamente porque os primeiros a desembarcar nas suas costas foram os portugueses, que de facto têm um nariz compridíssimo, e também os jesuítas que vinham com eles. E portanto a cidade era uma só coroa de fortalezas brancas e azuis sobre a colina, controladas pelos padres da Companhia, que deviam ocupar-se também das coisas militares, visto que a cidade estava a ser ameaçada pelos hereges holandeses. O padre Gaspar decidiu fazer rota por Macau, onde conhecia um frade doutíssimo em ciências astronómicas, mas esquecera-se de que navegava num fluyt.
O que fizeram os bons padres de Macau? Avistado um navio holandês, agarraram-se logo aos canhões e colubrinas. De nada valeu o padre Gaspar esbracejar à proa e haver feito imediatamente içar o estandarte da Companhia, aqueles malditos narizes compridos dos seus confrades portugueses, envoltos no fumo belicoso que os convidava a uma santa carnificina, nem deram por isso, e força a fazer chover balas à volta de toda a
Daphne".

Umberto Eco retrata assim uma das mais conhecidas proeminências do lusitano, o nariz, grande concorrente das unhas. Se tivessem sido os italianos a chegar primeiro à Ásia (parece que quando Marco Polo lá chegou, os tamanhos ainda não eram valorizadas), os chineses decerto nomeavam os europeus por os picaretas.

Se

Sou contra discursos paternalistas do tipo Eu bem te disse ou Eu Avisei. Também não suporto as tiradas auto-promocionais condicionais, como por exemplo Se não fosse eu..., mas temos de dar a mão à palmatória e perceber a grandeza do departamento médico do Benfica que pleno de espírito abnegado, lá vai lutando para que a equipa fique no terceiro lugar do campeonato.
Se não fossem eles...

quinta-feira, abril 26, 2007

O 25 de Abril e a Sociologia das Organizações

(24.04.1974, cerca das 23 horas. Ouvem-se pancadas na porta dos estúdio do Rádio Club Português. Chega o porteiro e depara-se com quatro militares)

Militares
Isto é um levantamento militar. Pode-se entrar?

Porteiro
Um momento, vou ver se é possível.

segunda-feira, abril 16, 2007

Lesbicon Tension

Três sardinhas assadas num jacuzzi com uma garrafa de Coca Cola ... distúrbio alimentar ou uma grande perturbação sexual?

quarta-feira, abril 11, 2007

Steve

Ontem de manhã, trabalhava eu no gabinete quando comecei a ouvir um barulho ao qual não liguei muito até que me apercebi do seu produtor. Era um ratinho.
Convém explicar que presença de roedores nestas latitudes, ainda que não seja insólita, não é comum. Existe por estes lados uma verdadeira equipa de extreminadores, constituída pelo pessoal da manutenção e limpeza e pelos gatos que frequentemente se passeiam pelos terraços do edifício. Apesar de ter a envergadura do meu polegar, denota-se que este bicho é um sobrevivente. Tratei logo de o apanhar, antes que perecesse decapitado numa das múltiplas armadilhas-guilhotina espalhadas pelos recantos do edifício ou que comparecesse nas emboscadas dos gatos.

Aprisonar um rato vivo é uma arte. Carece de isco e armadilha e demais manhas, por isso armei-me de bolachas de sementes de sésamo e um tubo transparente para rolos de papel, colocando o isco junto ao fundo, com o tubo na posição de deitado. Como o invasor se havia barricado por detrás do armário, montei ali a tocaia; passados três minutos já se ouvia o rilhar da bolacha amplificado pela acústica do tubo. Steve McQueen estava na cela.

As senhoras da limpeza vão-se passar quando virem o Steve no T3 de acrílico que lhe comprei nos "chineses". Prometo que lhe darei comida, água e boa música ambiente; em troca ele dá-me a sensação de que estou no controlo de algo na minha vida. Ah! E pode utilizar a net à noite, quando eu por cá não estiver.

sábado, abril 07, 2007

Agora, a sério...

Nos dias correntes começo ficar assaz impressionado com o ganho de profundidade da expressão "brincamos ou andamos a colar cartazes?".

quinta-feira, abril 05, 2007

O Exame

Então o nosso polígono arrectangulado à beira-mar despejado anda em alvoroço por o Primeiro-Ministro não ser engenheiro por causa de um reles exame? Um exame que apresenta uma única (e dificílima) questão:
Indique o número de conta da qual poderemos debitar directamente a sua mensalidade da Ordem dos Engenheiros.

VER-GO-NHO-SO! Anda por aí muito Dr sem Doutoramento e ninguém lhes anda a espiolhar as carreiras académicas! Cambada de Pelintras!

Ass: Dr. Croius

sexta-feira, março 23, 2007

Uma Fábula dos Monumentos

Era uma vez um monumento, daqueles antigos e importantes, desses de granito suave, tão suave que os homens que o emparelhavam nas fiadas cada vez mais altas das paredes sentiram uma necessidade premente de moldá-lo em rendilhados, figurações e feitios, tantos e tão variados, que as peças de granito assim aglomeradas compunham um edifício monumental.
Veio um pombo, porque um monumento tão perfeitamente estético é o poiso mais procurado pelos pombos, pois eles são amantes da arte e da arquitectura.
Com esse pombo vieram mais pombos, que gostavam de ali nidificar e chocar os seus ovos, depois criados borrachos, que são os filhos dos pombos. Depressa o monumento se tornou uma cidade de pombos.
O problema é que como todos os bons amantes de arte, os pombos demonstram o seu amor babando-se, mas sob a forma de guano branco. Os monumentos são mais amados na razão directa da sua patente brancura.
Mas um dia os homens fartaram-se de limpar o guano dos pombos, alegando que todo aquele amor desabrido fazia mal ao monumento e instalaram um sistema de transmissão de ondas rádio, programados para uma frequência que causava mal estar aos pombos.
A colónia de pombos que habitava no monumento alvoroçou-se. Muitos arrulharam que a chegada do novo sistema era sinónimo de mudança para outro monumento e todos sabiam o quão difícil era encontrar outros monumentos bonitos desocupados. Os mais jovens e os que não tinham família para sustentar ainda levantaram vôo e tentaram a sorte em outros pombais monumentais; mas a maioria resolveu arriscar em continuar no monumento.
O sistema, logo que ligado, começou a afligir os pobres pombos: sofriam de desorientação e desiquilíbrio, de uma permanente sensação de azia e de dores de cabeça. Os centros de saúde dos pombos não chegavam para acolher tantos doentes e os culumborenários, médicos dos pombos, não tinham asas a medir. O caos tinha-se instalado no monumento.
E as companhias farmacêuticas dos pombos esfregavam as asas, pedindo ao Deus das pombas para que os homens instalassem mais destes sistemas nos outros monumentos.

quarta-feira, março 21, 2007

La Facade

Porque hoje é dia Mundial da Poesia (e da árvore, etc, etc) lanço aqui uma elegia de minha lavra subordinada, redundantemente, à tragédia. Um drama de faca e alguidar ocorrido numa qualquer pensão manhosa eivada de putas e de chatos, à razão de uma por cada mil, com acesso aos quartos por meio de um ascensor de portas de rede ao melhor estilo dos filmes harcore da escola francesa de meados dos anos setenta. Chamei-lhe e ainda chamo, La Facade.

La Facade

Clamei, manobrando o cutelo
Tragédia! nos exíguos quartos.
Tinto, o tapete de curto pêlo,
cinjo o cinto, pego nos sapatos.
A escada negra, rubro corrimão,
calam-se as putas, fogem os chatos,
o sangue escorrendo para o chão
pelas frinchas do soalho da pensão.

Do Cacete

Breve sinopse do percurso político d’el Rei D. Miguel, 30º monarca português, de cognome o Caceteiro.

Portugal, século XIX. Arriba rapazola do Brasil e desembarcando em Lisboa, não gosta nada (com sotaque carioca, né) que seu pai D. João VI se dê com os liberais. Resolve organizar um golpe a, Vila Francada, chegando a Comandante-Chefe do Exército. Depois, como o paizinho insistisse nas más companhias, organizou a Abrilada (naquele tempo, os golpes acabavam em –ada; depois veio o -ismo). Sequestra ministros, personalidades e o rei, argumentando que os maçons conspiravam contra a vida do obeso monarca, propondo-se defendê-lo e a salvar-lhe a vida. O pai, como recompensa, manda exilá-lo na Áustria. Volta passado alguns anos, para regente, manobrando, ardiloso, até que, apanhando-se por cima, pimba, pimba, aqui D’El Rei que sou Absoluto. De cacetada em cacetada (ou em portugueís do Brasiu, di cassêtchi em cassêtchi) perdeu a guerra civil contra o irmão e ingressou no exílio até ao fim da vida.

Sem cair naquele chavão da História que se repete, olho para trás e apetece dizer, Ah Paulo, se te chamasses Miguel, contava-te uma boa...

terça-feira, março 20, 2007

Mais Heróis

Actores, pintores, escultores, medicamentos e pessoas que estiveram algures na Arábia Saudita, cujos nomes acabam em hãn:

Ricardo Montalban

Paul Gaughin

Auguste Rodin

Gorosan

Artur Albarran

terça-feira, março 13, 2007

Nem de Propósito...

Saiu no Público esta notícia intitulada Embaixador alcoolizado e Nú:

A polícia de El Salvador só percebeu que aquele homem alcoolizado e nu - à excepção de alguns acessórios sado-maso - era o embaixador de Israel depois de lhe retirarem uma bola de borracha da boca, o que lhe permitiu falar, descreve a BBC. Na sequência do incidente embaraçoso, o embaixador Tzuriel Refael foi chamado de regresso a Israel e despertou no país o debate sobre o modo como são escolhidos os representantes diplomáticos...”

Quando chegar a Tel Aviv, o menino vai levar tau-tau...

segunda-feira, março 12, 2007

Portugueses na Literatura Estrangeira

Este post-scriptum remeteu-me para a imagem que os estrangeiros têm dos portugueses. Nos finais do séc. XIX Victor Hugo disse “se aos espanhóis tirarmos as qualidades, ficamos com os portugueses”. Lindo, não é? Como anda a cotação do povo luso na literatura mundial? Revê-se no Oliveira da Figueira de Les Aventures de Tintin? Ou no bitter Vasco Pulido Valente, o personagem português de Bilhete de Identidade da M. Filomena Mónica? De tempos a tempos, enfatizamos passagens da literatura mundial (garantidamente genuínas) onde pontuam personagens portugueses.

1. G. D. GOLD (EUA), Carter Vence o Diabo, p. 369-370:

Um dos quartos estava ocupado por Tony Alhino, que Griffin já tinha entrevistado uma vez. Alhino, de vinte e sete anos, português, dirigia o serviço de bebidas do Palace e tinha levado a Harding o seu último copo de água. Como o seu turno começava às quatro, não havia razão para estar no quarto quando Griffin bateu à porta. Mas estava. Era um homem moreno, com um bigode farto e as faces marcadas pela acne e, no momento em que viu Griffin, pôs um ar de culpado por todos os crimes cometidos no estado da Califórnia.
- Tony Alhino?
- He...
- Griffin, do Serviço Secreto. Já falámos uma vez.
- Macacos me mordam! – respondeu Alhino. Com o choque, falou em português mas, quando as palavras lhe saíram da boca, extraiu delas uma espécie de poder com um sorriso, como se uma segunda língua lhe proporcionasse uma vantagem sobre Griffin.
Griffin disse então a primeira coisa que lhe veio à cabeça – quero lá saber se os macacos te mordem.
Alhino ficou absolutamente mudo. Griffin decidiu pressionar.
- Ouve cá, amigo, vamos falar duma garrafa de vinho.
- Oh não! – Alhino sentou-se na cama. Enfiou a cara nas mãos. – Tenho oito irmãos e irmãs.O meu pai é barbeiro, mas está a ficar com os tremores.
- Onde está a garrafa de vinho?
- Não posso perder o emprego – gemeu ele.
Griffin tinha-se cruzado com vários tipos de choramingões na vida. Até sentia pena deste, no seu quartinho de janelas sujas. A cama era demasiado pequena para se sentar também, pelo que se acocorou e disse afavelmente: - É muita areia para a tua camioneta – era uma expressão popular que os adultos usavam quando diziam às crianças que alguma coisa excedia as suas capacidades.
- Onde é que aprendeu a falar português? – perguntou Alhino entre fungadelas.
- Com a minha ex-mulher – Esfregou o queixo. – Gostava de saber o que ela berrava quando me estava a atirar com cadeiras.

Está aqui tudo: a infelicidade do nome (mas antes Tony que Óscar), moreno e de bigode, profissional de hotelaria, família numerosa e grandes embrulhadas por causa da imortal garrafa de vinho... e preciosa alusão do americano à elegância e compostura da fêmea lusa nas discussões conjugais.

quinta-feira, março 08, 2007

Heróis

Grandes heróis cujos nomes terminam em hãn:


Conan

Rantanplan

Sandokan

Tarzan

Arsène Lupin

Tintin (pronunciado em francês)

quarta-feira, março 07, 2007

Da Hipocondria II

No seguimento do estudo de hipocondria apresentado no outro dia, eis uma outra variante.

# 3. Hipocondria itinerante: forma epidémica de hipocondria que se encontra um pouco por todo o lado, mas com mais expressão nos transportes públicos, táxis, autocarros e comboios. A descrição da sintomatologia incluem generosas alusões a todo o panteão católico, alternado com o rol de maleitas e de cirurgias por ela experimentadas.
A título de exemplo, relatarei
(como se fosse António Lobo Antunes) um diálogo verídico a que assisti entre dois passageiros do comboio.


Arrasta-se a composição pela linha, deixando a gare suja de fumo e cheiros a diesel e, percorridos alguns metros, já uma senhora se vai lamentando,
- Oh, isto aqui é a ponte?
metálica sobre um rio ancho, parado e azuláceo, olhando um homem dos seus quarenta que acusa a inquirição
- É
e logo a senhora desmancha num choradinho
(olho de relance o pato aprisionado naquela teia de lágrimas secas)
- Mas como é que eu falhei a estação, Meu Deus? É que eu tinha uma consulta no médico, ainda por cima tão ruim de marcar...
- E a senhora vem de longe?
- Venho desde S. Bento
(uma terra perdida nos montes, encruzilhada de caminhos, apeadeiro de diabos, daí o nome)
- de autocarro até Vila Nova, ali queria apanhar o expresso para a cidade, mas disseram-me que o comboio era mais rápido; como queria passar pelos correios e depois ia tirar sangue, quis aproveitar o chegar mais cedo, ainda por cima ando tão mal desta perna...
- A senhora não está bem?
a indignação crescendo na senhora
- Não estou bem? O senhor nem queira saber, já fui operada ao coração no estrangeiro, mas deram-me uma transfusão de sangue que não era da minha qualidade e fiquei paralisada do lado esquerdo
(a qualidade dos sangues e da saúde do país afinal está ao nível da média europeia, que a velha não tem cara de ser apologista do sistema de saúde cubano)
- e depois até me tiraram a vesícula e ganhei uma úlcera no estômago, enfim, fora as drogas que tenho de tomar para isto tudo...
(o rapaz vai sorrindo, como se os sorrisos ou a pena curassem a velha)
- e este meu joelho que não deve estar nada bem...
o comboio pára, vou saindo e pensando
(fora as drogas, ainda bem que não me puseram a médico)

terça-feira, março 06, 2007

Diálogo Hipocondríaco

Quinta-Feira, 9h45 da manhã; duas senhoras aguardam na sala de espera do Centro de Saúde da área de residência. Uma delas está visivelmente combalida, dando longos suspiros de quando em vez, ao passo que a outra, recostada na cadeira, vai passando a mão pela cabeça. De repente, um suspiro mais prolongado quase terminando em ai faz com que a senhora da mão na cabeça interpele a dos suspiros.

Senhora com a mão na cabeça
(Com pena) Está cheia de dores, não está?

Senhora que suspira
Ai, minha senhora, (virando a cabeça para o lado) nem queira saber! Estou aqui que não me aguento...

Senhora com a mão na cabeça
É falta de ar? Se calhar são gases...

Senhora que suspira
Ah, se fosse isso... Tenho uma dor nesta perna (vai passando a mão pelo lado esquerdo do corpo) que me sobe por este lado até, com sua licença, ao rabo, que me tem toda apanhadinha; e de vez em quando dão-me umas cólicas terríveis, (respira duas vezes, meio ofegante ) derivadas de um problema que eu tive na vesícula, que eu já tirei numa operação que me fez estar no hospital quatro semanas; olhe, de estar tanto tempo deitada comecei a ganhar problemas de coluna e uma ciática que me apanha este lado todo (esfrega a perna direita), olhe parece que me estão a dar facadas na coxa.

Senhora com a mão na cabeça
Também já me aconteceu isso, (acenando afirmativamente com a cabeça, para logo a amparar com a mão), sei bem do que fala. São umas dores que não se aguenta...

Senhora que suspira
Pois. Mas o pior é que há dois meses começaram a aparecer-me umas manchas na pele, que me dão uma comichão tamanha, que agora ando a queimá-las com um produto; é um tratamento que me dói muito, olhe, até parece (faz um esgar de horror) que me estão a esfolar com um alicate.

Senhora com a mão na cabeça
Jesus, Virgem Santíssima. (Estica-se em direcção à outra em jeito de confidência) Olhe que há aqui um médico da pele que é muito jeitoso, já me curou duas vezes umas impigens que ganhei na cara por causa de umas lulas estragadas que comi certa vez.

Senhora que suspira
E vem aqui fazer o tratamento, é?

Senhora com a mão na cabeça
Não. (leva as mãos à cabeça que inclina para trás, ao mesmo tempo que cerra os olhos) Tenho uma enxaqueca que nem consigo abrir os olhos. É do fígado. Comi ontem um peixe cozido com grelos que me fez uma azia... tenho o ventre todo afrontado.

Senhora que suspira
(esboçando um olhar compassivo) Ah, coitada.

Senhora com enxaqueca
E é um sofrimento... (começa a passar as mãos em círculo pelo ventre) apanha-me esta parte toda... é que eu não posso comer grelos, sabe? Mas resolvi cozer um peixinho que eu comprei lá em baixo nas peixeiras do mercado, até mo limparam, veja bem, e depois descasquei umas batatinhas, juntei uma cebolinha e uma cenoura cortada ao comprido, e tinha lá um molhinho de grelos que a minha irmã trouxe do quintal dela, não o quis deitar fora e dá sempre um gostinho amargoso à comida (tossica ligeiramente, depois suspira)... depois com um fiozinho de azeite, que bem que estava...

Senhora que suspira
Pois é uma comidinha boa, lá isso...

Senhora com enxaqueca
E à tardinha comecei a sentir uma revolução, olhe, umas dores, pensei logo, lá está a vesícula outras vez, com uma azia, parecia que tinha engolido um braseiro... Ai (olhando em redor) e nunca mais somos atendidas...

Senhora que suspira
Qual é o seu lugar de espera?

Senhora com enxaqueca
(já mais vivaça) É o sete, mas a semana passada fui o doze e o quatro e na outra semana o desassete.

Senhora que suspira
(em tom meio enfadado) Pois eu já aqui esperei tantas vezes e já tive tantos números diferentes, que até me deu para preencher um boletim completo do Euromilhões!

segunda-feira, março 05, 2007

Da Hipocondria

Numa das minhas recentes passagens pelo hospital, identifiquei as duas formas de hipocondria mais frequentes dos corredores compridos e assépticos onde as pessoas por vezes aguardam, por outras adiam, la muerte.

#1. Hipocondria clínica: a forma mais comum de hipocondria, muito vulgar em senhoras que, em qualquer equipamento do Serviço Nacional de Saúde, procuram sentar-se em frente de outras senhoras, visando interpelar quem lhe está defronte. Primeiro fica em silêncio e se ninguém puxa a conversa, solta longos suspiros e fungados para se fazer notar, procurando os outros com o olhar; inquire então alguém dos presentes (normalmente quem lhe retribui a atenção) porque está ali e antes que termine de dizer “vim fazer umas análises”, já está a hipocondríaca clínica a discorrer longamente sobre as doenças que a infectam desde que o marido morreu. São o pesadelo dos clínicos gerais, porque se fazem acompanhar sempre e ostentam com orgulho as radiografias, ressonâncias e demais exames que atestam os variados males, caso dos bicos de papagaio e mal-estar geral em todo o esqueleto, artrites, artroses e tendinites, hérnias discais e inguinais, estiramentos e roturas, pé-de-atleta e grande variedade de fungos.

#2. Hipocondria culinária: género de patologia patente nos pacientes que infestam os Serviços de Urgência sem motivos emergentes, daí conhecerem todo o pessoal hospitalar, do Chefe de Serviço ao porteiro, assim como todos os meandros dos hospitais e os seus serviços. Surpreende os incautos pacientes que desesperam por um raio X ou umas análises com os seus próprios exames, “olhe que devem ser gases” para as dores de barriga, ou “se calhar foi um jeito que deu à coluna” quando a dor é no pescoço, porque já lhe aconteceu algo semelhante.
Esta forma de hipocondria associa a sintomatologia do quadro clínico do qual padece com a confecção de comida, ao mesmo tempo que acena aos interlocutores com o relatório de análises ao sangue com os valores três vezes mais alto que o normal. “Olhe que me deu umas dores aqui nos intestinos, Senhor Doutor, se calhar foi de um arroz de sardinhas que fiz ontem, sabe, refoguei uma cebolinha com uns pimentos e uma folhinha de louro, depois ajeitei três sardinhas gordas...” e segue a conferência perante o olhar atónico do clínico, despejando ainda uma receita de cabrito assado no forno e uma caldeirada de sete peixes.
Queixa-se de mal-estar em todo o sistema digestivo, azias, úlceras e cólicas, gases e consequentes problemas respiratórios, cálculos hepáticos, pedras na vesícula e em ambos os rins, prisão de ventre alternada com diarreia, obesidade, sangue gordo, enxaquecas e outras encefaleias, hipertiroidismo e outros quadros com sufixação em -ismo, começando em meteorismo e acabando no autoclismo.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Uma Verdade Inconveniente

Ah! como eu gosto das feministas... em especial daquelas feministas tornadas amargas quando descobrem que a militância muitas vezes não chega para encobrir a necessidade que têm de homem.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Sem Papas na Língua

Quarta-Feira, 21 de Fevereiro. Acordei às 7h30 com a sensação de que nunca mais eram 19h45. Ainda de manhã deparei-me com um comentário ao chamado Sistema Alberto do editorial do DN, rematado num jeitoso marcador É preciso ter testículos, escrita de P.P. Mascarenhas.

Já à noitinha, antes de me deleitar com a presença de M. Rebelo de Sousa no Late Night with Conan O’Brien, apanhei outra vez o Prazer dos Diabos. Mais uma vez fui aos arames quando Adelaide de Sousa percebeu o significado do verso da música Great Balls o’ Fire do Jerry Lee Lewis. Aconteceu isto após José Pina ter dito que Alberto João Jardim “teve testículos” ao lançar a tremenda jogada política que foi demitir-se do Governo Regional da Madeira.

Um dos acordes mais afinados da partitura existencialista é a demanda do Homem da catarse, da expiação, da purga do espírito. Numa época em toda a gente está apostada a abrir as chakras do verbalismo tantas vezes truncada pelo movimento politicamente correcto, é de louvar quem almeja esses estados catárticos. O palavrão, enquanto termo solitário e sonoro ou incluído em fluente caudal compósito (os celebrados tomates do Padre Inácio, por exemplo) surge como purgante das angústias que martelam o peito e turvam o discurso.

Voltando aos testículos, quando se escreve assim nesses termos, querendo exprimir, mas calando, tem-se medo do quê, ao certo? De sujar as mãos no teclado? De sujar a boquinha? Testículos pode-se usar, mas tomates já não? Como é possível permutar e castrar o sentido de uma frase tão significativa por uma mariquice politicamente correcta?

Ó senhores. Ao invés de se porem com trejeitos que murmuram “é preciso ter testículos”, limpem a alma e bradem alto “É preciso ter tomates”.

Caralho!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

M. Rebelo de Sousa no Late Night with Conan O’Brien

Ontem à noite, enquanto fazia um zappingzito antes de dormir, quedei-me a ver mais uma migração da extinta SIC Comédia, desta feita para a SIC Radical: Late Night with Conan O’Brien. Em causa, a reposição do programa emitido no dia 29 de Junho de 2006. Abro aqui um parêntese para lembrar que por estas alturas ainda se disputava o acesso aos quartos de final no Mundial da Alemanha e que a 30 de Junho Portugal jogaria contra a Inglaterra.

Apanhei a emissão na altura em que Conan, enquadrado por esta actualidade futebolística, fazia a apresentação das novas mascotes das selecções ainda em prova. Infelizmente só apanhei os últimos dois, mas que dois. Dizia ele (aqui sem a precisão textual) «Passámos à Suécia. Como sabem, a Suécia aposta na exportação de mobiliário e dos filmes de Ingmar Bergman; a nova mascote chama-se “A Morte monta uma cadeira do IKEA”» (passa um filme a preto e branco, com a morte, de vestes negras e gadanha, a tentar aglomerar uma cadeira, lamuriando-se em sueco “eles diziam que demorava metade do tempo...”). [Ouvem-se risos] «E finalmente, Portugal, que amanhã jogará os oitavos contra a Inglaterra... Portugal apresentou a sua nova mascote, (e isto é rigorosamente textual) “MARCELO, o vagabundo da praia”.

E eu atiro: O quê, ele já passa no Conan O’Brien? Fónix!?!


P.S: Entrou então em cena um indivíduo bronzeado, com 1,90m, barriga, peitorais descaídos, tanga amarela e óculos de sol, a acenar e a dizer oulah, oulah, que é olá em americano. É curioso constatar que os argumentistas do programa tenham esta ideia de Portugal, a de que é uma espécie de Brasil.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Gandhi na Madeira

Jardim demitiu-se do Governo Regional da Madeira. O PSD provou grande pontaria política, desta feita não dando tiros nos pés, mas entre os dedos dos pés, apoiando a atitude do homem que se vê como um Gandhi (percebe-se agora o sotaque), mas detentor daquele diferendo com o ex-guru do partido, o Sr. Silva. Como em tudo na vida, tal atitude traz coisas boas e coisas más.

Positivo (ou seta para cima): o novo governo regional só entrará em funções lá para meados de Maio, o que equivale a quase três meses sem atirar dinheiro (50 milhões de €uros) para aquele sumidouro tropical.

Negativo (ou sinal menos): a expectativa. Conseguiremos aguentar o suspense deste braço de ferro do protagonista dos vídeos mais picantes do YOUTUBE com o principal apologista da independência da Madeira, Porto Santo e Selvagens? Qual deles sairá vencedor nas eleições?



segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Que prazer, c’os diabos?

No outro dia quedei-me a televisionar um dos programas migrados da SIC Comédia para a SIC Mulher, o Prazer dos Diabos; tendo assistido às primeiras emissões do programa na Comédia, ainda com o Alvim e o Markl, nunca mais lá passei as vistas. Vai então de espionar o que anda a fazer o novo painel. Tudo muito bonito, tudo muito inteligente, tudo muito risonho. Qualidade, ZERO, poluição sonora e visual, MUITA.

A principal figura é o grande argumentista José Pina, exemplo paradigmático de pessoa sujeita à exposição continuada ao ruído branco dos televisores. Com ar de quem engoliu um limão podre, tem um viso que lembra em parte a Águia Careca dos Marretas (ao nível da sobrancelhas, olhos e melena) e a expressão céptica e boquiaberta do Becas da Rua Sésamo. Aprecio deveras a escrita deste senhor, mas a sua aparição em ecrã tem a mesma oportunidade da transmissão das nuances de Carmen Electra em Braille.

O programa é mediado pela Adelaide de Sousa, rapariga garbosa que empresta aos teasers e aos separadores que faz (e mais nada dali sai) uma série de referências e insinuações dos prazeres que o programa aparentemente proporciona, de olhinhos semicerrados. A sensualidade do bota-abaixismo que por ali grassa, subentendida é certo, não terá as qualidades prazenteiras que a menina apregoa, porque basta um plano de José Pina para estragar tudo.

Também anda por lá uma Inês Meneses, o contraponto do programa («bem vestida», disse a menina de si, certa vez que envergava um daqueles pull-overs Lacoste de tenista anos 70, em cima de uma camisa de folhos pirosa 100 à hora, cingida no pescoço com um laço, muito fin de siècle; depois descobri que tem uma estilista que lhe cuida da imagem, à semelhança do jardineiro que espalha estrume num relvado): se é suposto haver humor, o que faz ali aquela tragédia? Ou representará o prazer frígido? Pedro Mendes, por seu turno, está no programa como corrector ortográfico da Inês M.: neste programa que visionei interveio umas oito vezes para corrigir as patadas da menina, as conjugações verbais, a precisão de nomes e a escolha de sinónimos.

À atenção da Produção: O hedonismo funciona na base da gratificação e isto não recompensa nem dá alvíssaras. Este programa não induz prazer, apenas laivos de masoquismo descompensado para o voyerismo telespectador. Quando não há prazer, há disfunção. Por isso dêem Viagra as pobres diabos.