segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Que prazer, c’os diabos?

No outro dia quedei-me a televisionar um dos programas migrados da SIC Comédia para a SIC Mulher, o Prazer dos Diabos; tendo assistido às primeiras emissões do programa na Comédia, ainda com o Alvim e o Markl, nunca mais lá passei as vistas. Vai então de espionar o que anda a fazer o novo painel. Tudo muito bonito, tudo muito inteligente, tudo muito risonho. Qualidade, ZERO, poluição sonora e visual, MUITA.

A principal figura é o grande argumentista José Pina, exemplo paradigmático de pessoa sujeita à exposição continuada ao ruído branco dos televisores. Com ar de quem engoliu um limão podre, tem um viso que lembra em parte a Águia Careca dos Marretas (ao nível da sobrancelhas, olhos e melena) e a expressão céptica e boquiaberta do Becas da Rua Sésamo. Aprecio deveras a escrita deste senhor, mas a sua aparição em ecrã tem a mesma oportunidade da transmissão das nuances de Carmen Electra em Braille.

O programa é mediado pela Adelaide de Sousa, rapariga garbosa que empresta aos teasers e aos separadores que faz (e mais nada dali sai) uma série de referências e insinuações dos prazeres que o programa aparentemente proporciona, de olhinhos semicerrados. A sensualidade do bota-abaixismo que por ali grassa, subentendida é certo, não terá as qualidades prazenteiras que a menina apregoa, porque basta um plano de José Pina para estragar tudo.

Também anda por lá uma Inês Meneses, o contraponto do programa («bem vestida», disse a menina de si, certa vez que envergava um daqueles pull-overs Lacoste de tenista anos 70, em cima de uma camisa de folhos pirosa 100 à hora, cingida no pescoço com um laço, muito fin de siècle; depois descobri que tem uma estilista que lhe cuida da imagem, à semelhança do jardineiro que espalha estrume num relvado): se é suposto haver humor, o que faz ali aquela tragédia? Ou representará o prazer frígido? Pedro Mendes, por seu turno, está no programa como corrector ortográfico da Inês M.: neste programa que visionei interveio umas oito vezes para corrigir as patadas da menina, as conjugações verbais, a precisão de nomes e a escolha de sinónimos.

À atenção da Produção: O hedonismo funciona na base da gratificação e isto não recompensa nem dá alvíssaras. Este programa não induz prazer, apenas laivos de masoquismo descompensado para o voyerismo telespectador. Quando não há prazer, há disfunção. Por isso dêem Viagra as pobres diabos.

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