segunda-feira, outubro 15, 2007

Esquerda ou Direita?

No outro dia fui fazer umas análises, para ver como está o funcionamento da máquina e para calibrar a minha compatibilidade antropométrica com possíveis doações, actividade desportiva, medicina do trabalho, etc e beltreca.
De madrugada, depois de embalar urina fresca no recipiente de recolhas, lá me dirigi em jejum como manda a legislação da colheita de análises para a clínica. Ali fui recebido por um daqueles técnicos de ar dantesco, outrora frequentes nas morgues e nos hospitais psiquiátricos dos anos 50, que preencheu enfadado o formulário após o que me conduziu para a “sala de colheitas”, nome tão pomposamente rural e descabido para aquele sítio, porque mais valia o nome “sala de tortura” ou “sala da cadeira e da marquesa”, já que lá só existia uma cadeira e uma marquesa.
Apontou-me a cadeira, daquelas forradas a napa preta, com um único apoio para o antebraço do lado esquerdo. Tirei a camisola e sentei-me. Como o técnico se colocou à minha direita, eu enrolei a manga direita da camisa e estiquei o braço dextro, esperando que ele acabasse de colar as etiquetas com os códigos de barras numa série de pequenas provetas. Findo esse trabalho, volta-se para mim, olha para os meus braços e pergunta
- Qual é o braço que prefere, o esquerdo ou o direito?
Eu ainda indico com os olhos o braço direito previamente desnudo até cima, mas ele desvia-se com um
- O esquerdo? Pois muito bem, ponha lá o bracinho à mostra.
Eu, esmagado com a capacidade de persuasão do meu olhar, lá enrolei a manga esquerda, ficando de mangas arregaçadas, ao que o tipo atira
- Pois é, parece que chegou o tempo fresco!

"NEM DE PROPÓSITO, CARALHO", quis-lhe dizer, mas só me saiu
- É o tempo dele.
Poderemos extrair uma certa moralidade desta experiência, para além da temática meteorológica que o português tanto aprecia quando não há assunto.
Valerá mais um esquerdo apoiado, que um direito arregaçado.

Croius

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