sexta-feira, outubro 26, 2007

Diário Tecnológico

4 de Setembro de 2007:
Caminho de Santiago, Pontevedra - Padrón (34 Km)
Lá consegui consertar o espigão da bicicleta em Caldas de Reis, depois de ter partido a cavilha de amarração antes do Barro. Encontrei uma loja de reparação que estava a vender bom material ao desbarato por motivos de liquidação total (Total Carnificine).
Saí de Caldas em direcção ao Padrón e após uns cinco quilómetros, cheguei ao tasquinho onde já é tradição parar-se para descansar e carimbar a credencial.
Estava outro peregrino na bodega a beber uma meia de leite. (Foi aqui que encontramos no ano passado a Ann, uma enfermeira canadiana que estava a fazer o Caminho Português, depois de já ter percorrido os 900 quilómetros do Francês. Ah, com 60 anos).
O casal de velhotes que explora o tasquito é muito simpático e conversamos um pouco; pedi uma água fresquinha e um kit-kat. Quando paguei, pedi à senhora que juntasse à conta os dois cafés que o meu primo e o meu irmão lá ficaram a dever no ano passado, quando vinham de León. Contas à moda do Porto.
Mais à frente, ao passar pelo peregrino, parei para falar com ele. Alemão, estudante de Informática e Sistemas, veio para a Santiago para trabalhar nas vindimas durante as férias. Como ainda não tinham começado naquela região disseram-lhe para tentar no Porto. Chegou lá na última semana de Agosto.
- Mas vindimas só começam em meados de Setembro, disse-lhe eu.
- Eu agora sei isso, mas quando saí de Hamburgo nem tinha pensado nesse pormenor.
No comments.
Lá me contou que resolveu fazer o Caminho desde o Porto, porque tinha de voltar a Santiago para apanhar o avião e assim não desperdiçava os dias que lhe restavam. Caminhava à cinco dias, numa média impressionante de 35 a 40 km/dia, bem carregado e a bom ritmo. Ia completar o percurso em seis dias e sem qualquer preparação.
Perguntei-lhe então que tal estava a ver o caminho enquanto espaço cultural, monumental e patrimonial.
- Eu estou a gostar da experiência, da paisagem, das pessoas, mas como não sou muito cultural, tudo isso dos monumentos, dos museus e das igrejas passa-me um bocadinho ao lado.
Passamos o resto dos quilómetros que faltavam até ao Padrón a conversar sobre Defesa Nacional e Linguística Castelhana (isto não é cinismo, é a mais pura verdade).

25 de Outubro de 2007
Estou à espera pela minha mulher num dos cafés do centro de Viana do Castelo. Estão mais três clientes no café, sentados ao balcão, para além dos dois empregados. Na televisão o jogo Bolton vs Braga. Surpreendo a conversa nestes termos.
“- Olhe que eu acho que o Airbus é melhor que o 747, tem mais capacidade de manobra, é mais versátil. Ainda no outro dia estive a ler as especificações técnicas do aparelho; olhe que fiquei muito impressionado.

- Mas o acidente em Congonhas não foi com um Airbus?
- Foi, mas não podemos atribuir as culpas ao aparelho; o piloto aterrou em excesso de velocidade e em Congonhas, já se sabe, é muito perigoso, com aquelas construções mesmo em cima da pista
...”.
Paguei o café, levantei-me e saí, gritando em plenos pulmões do meu pensamento:
ISTO ESTÁ VIRADO AO CONTRÁRIO!!!!!

1 comentário:

noasfalto disse...

Podias deixar o café por pagar que eu depois passava lá e pagava-o. Contas à moda de Viana.
E por falar nisso...veio-me à cabeça que o que era mesmo porreiro pá era sair agora mesmo com direcção a STCOMP.
Abraço