segunda-feira, março 12, 2007

Portugueses na Literatura Estrangeira

Este post-scriptum remeteu-me para a imagem que os estrangeiros têm dos portugueses. Nos finais do séc. XIX Victor Hugo disse “se aos espanhóis tirarmos as qualidades, ficamos com os portugueses”. Lindo, não é? Como anda a cotação do povo luso na literatura mundial? Revê-se no Oliveira da Figueira de Les Aventures de Tintin? Ou no bitter Vasco Pulido Valente, o personagem português de Bilhete de Identidade da M. Filomena Mónica? De tempos a tempos, enfatizamos passagens da literatura mundial (garantidamente genuínas) onde pontuam personagens portugueses.

1. G. D. GOLD (EUA), Carter Vence o Diabo, p. 369-370:

Um dos quartos estava ocupado por Tony Alhino, que Griffin já tinha entrevistado uma vez. Alhino, de vinte e sete anos, português, dirigia o serviço de bebidas do Palace e tinha levado a Harding o seu último copo de água. Como o seu turno começava às quatro, não havia razão para estar no quarto quando Griffin bateu à porta. Mas estava. Era um homem moreno, com um bigode farto e as faces marcadas pela acne e, no momento em que viu Griffin, pôs um ar de culpado por todos os crimes cometidos no estado da Califórnia.
- Tony Alhino?
- He...
- Griffin, do Serviço Secreto. Já falámos uma vez.
- Macacos me mordam! – respondeu Alhino. Com o choque, falou em português mas, quando as palavras lhe saíram da boca, extraiu delas uma espécie de poder com um sorriso, como se uma segunda língua lhe proporcionasse uma vantagem sobre Griffin.
Griffin disse então a primeira coisa que lhe veio à cabeça – quero lá saber se os macacos te mordem.
Alhino ficou absolutamente mudo. Griffin decidiu pressionar.
- Ouve cá, amigo, vamos falar duma garrafa de vinho.
- Oh não! – Alhino sentou-se na cama. Enfiou a cara nas mãos. – Tenho oito irmãos e irmãs.O meu pai é barbeiro, mas está a ficar com os tremores.
- Onde está a garrafa de vinho?
- Não posso perder o emprego – gemeu ele.
Griffin tinha-se cruzado com vários tipos de choramingões na vida. Até sentia pena deste, no seu quartinho de janelas sujas. A cama era demasiado pequena para se sentar também, pelo que se acocorou e disse afavelmente: - É muita areia para a tua camioneta – era uma expressão popular que os adultos usavam quando diziam às crianças que alguma coisa excedia as suas capacidades.
- Onde é que aprendeu a falar português? – perguntou Alhino entre fungadelas.
- Com a minha ex-mulher – Esfregou o queixo. – Gostava de saber o que ela berrava quando me estava a atirar com cadeiras.

Está aqui tudo: a infelicidade do nome (mas antes Tony que Óscar), moreno e de bigode, profissional de hotelaria, família numerosa e grandes embrulhadas por causa da imortal garrafa de vinho... e preciosa alusão do americano à elegância e compostura da fêmea lusa nas discussões conjugais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem apanhado!