O Comboio é um meio de transporte que encerra um mundo misterioso e grandemente apelativo ao sonho, ímpar no panorama dos transportes terrestres por esse mundo fora. O mundo da ferrovia é único. Quando comparados com ele, os outros meios de transporte ficam aquém da qualidade das memórias e confortos providos pelas composições que diariamente cruzam as estações, sendo certo e sabido que entrar num comboio é penetrar num espaço museológico onde se pode desfrutar da paisagem.
Uns dizem-me: “Ah, o autocarro também dá para ver a paisagem…”, está bem, mas e o passado? O autocarro não tem passado, é uma invenção recente e só existe porque o comboio não chega lá! Ainda para mais o autocarro é claustrofóbico, tem os assentos apertados e não dá para andar de um lado para o outro sem que o passageiro do lado nos enfie um soco nas goelas. E o motorista, ali à vista, a mirar o passageiro pelos seus três espelhos interiores? No comboio existe liberdade de movimentos e liberdade psicológica; no comboio não há condutores mirones!
O táxi assemelha-se ao o autocarro, mas possui uma vantagem: dá para sair quando quisermos. Não permite, contudo, o convívio de longo curso, já que ao quilómetro 2 da bandeirada fartamo-nos da conversa intrusiva do taxista, com as suas alusões à meteorologia, à política e ao pontapé. Ao contrário, no comboio as pessoas metem-se connosco só a partir de determinada quilometragem, após terem asseverado que não constituímos uma ameaça, no sentido de que só é ameaçador quem falar mais do que elas. E só quando não há mais nada para ler.
O comboio é uma instituição memorável. Onde é que é possível encontrar histórias como a daquele senhor que, depois de procurar lugar em todos as composições lá avistou uma vaga ao lado de uma senhora; quando ele se aproximou do lugar e começou o movimento para se anichar, a senhora disse “não”, ao que ele inquiriu “pagou dois bilhetes, minha senhora?”, ao mesmo tempo que se sentava em cima de uma saca com duas dúzias de ovos. E uma viagem entre o Porto e Coimbra que durou onze horas (+ sete que o habitual) em que até deu para um grande campeonato de sueca? Que lembranças!
E as proezas que no comboio tiveram o seu palco? Onde é que o Steven Segal limpou o sebo aos terroristas que tinham dominado o mortífero satélite no Forças em Alerta 2? E se o Crime do Expresso do Oriente se chamasse Crime no Táxi do Oriente? E se a música Take The A-Train do Duke não tivesse o Train? E Os Cinco e o Comboio Fantasma? E o Homem que via Passar os Comboios? E o Trainspotting? E os desastres ferroviários, o Pendular, etc, etc, etc. O comboio é essencial.
Ao nível cinematográfico, é certo que o Metro aparenta aproximações e já foi cenário de algumas aventuras, mas não é a mesma coisa; o metropolitano é rápido e asséptico como o sexo com uma tia da linha, não nos deixa a cheirar a gasóleo e meio penhagentos como as putas espanholas. Querem trocar dois séculos e meio de crude por meio século de lixívia (no Porto é mais ano e meio...)? Não, não queremos. O comboio é para os aventureiros e para os festivaleiros. Como é que se chega a Caminha? Por acaso nos autocarros da Turilis dá para fumar ganja? E alguém já fez interrail dentro de um táxi? Quem no seu perfeito juízo se imaginou a repudiar em pequenino os comboios e todo o seu aparato de estações, túneis, montanhas e carris, preferindo antes brincar com miniaturas de táxis pretos com tejadilho verde e autocarros pequeninos de dois andares? Digam lá!
Fiquem sabendo que alguns sociólogos defendem que o comboio é o símbolo da sexualidade na Revolução Industrial (daí a expressão “deixa-me meter-te o comboio no túnel”).
O mundo ferroviário é mágico, é especial, está-nos no sangue. Mas a magia do mundo ferroviário dever-se-á procurar também na sua analogia ao futebol. Para além da coincidência de actuar dentro de linhas e de haver jogadores que partilham a sua omnoástica, como o colombiano “El Tren” Valência e o francês Desaillis, “a Locomotiva” (talvez por ser da cor delas), o que dizer dos Chefes de Estação, com a sua bandeirinha e apito, afinal uma mistura de fiscal de linha com árbitro?
Ah, meus irmãos, é por esta e por outras que o TGV nunca será credor da minha paixão.
Uns dizem-me: “Ah, o autocarro também dá para ver a paisagem…”, está bem, mas e o passado? O autocarro não tem passado, é uma invenção recente e só existe porque o comboio não chega lá! Ainda para mais o autocarro é claustrofóbico, tem os assentos apertados e não dá para andar de um lado para o outro sem que o passageiro do lado nos enfie um soco nas goelas. E o motorista, ali à vista, a mirar o passageiro pelos seus três espelhos interiores? No comboio existe liberdade de movimentos e liberdade psicológica; no comboio não há condutores mirones!
O táxi assemelha-se ao o autocarro, mas possui uma vantagem: dá para sair quando quisermos. Não permite, contudo, o convívio de longo curso, já que ao quilómetro 2 da bandeirada fartamo-nos da conversa intrusiva do taxista, com as suas alusões à meteorologia, à política e ao pontapé. Ao contrário, no comboio as pessoas metem-se connosco só a partir de determinada quilometragem, após terem asseverado que não constituímos uma ameaça, no sentido de que só é ameaçador quem falar mais do que elas. E só quando não há mais nada para ler.
O comboio é uma instituição memorável. Onde é que é possível encontrar histórias como a daquele senhor que, depois de procurar lugar em todos as composições lá avistou uma vaga ao lado de uma senhora; quando ele se aproximou do lugar e começou o movimento para se anichar, a senhora disse “não”, ao que ele inquiriu “pagou dois bilhetes, minha senhora?”, ao mesmo tempo que se sentava em cima de uma saca com duas dúzias de ovos. E uma viagem entre o Porto e Coimbra que durou onze horas (+ sete que o habitual) em que até deu para um grande campeonato de sueca? Que lembranças!
E as proezas que no comboio tiveram o seu palco? Onde é que o Steven Segal limpou o sebo aos terroristas que tinham dominado o mortífero satélite no Forças em Alerta 2? E se o Crime do Expresso do Oriente se chamasse Crime no Táxi do Oriente? E se a música Take The A-Train do Duke não tivesse o Train? E Os Cinco e o Comboio Fantasma? E o Homem que via Passar os Comboios? E o Trainspotting? E os desastres ferroviários, o Pendular, etc, etc, etc. O comboio é essencial.
Ao nível cinematográfico, é certo que o Metro aparenta aproximações e já foi cenário de algumas aventuras, mas não é a mesma coisa; o metropolitano é rápido e asséptico como o sexo com uma tia da linha, não nos deixa a cheirar a gasóleo e meio penhagentos como as putas espanholas. Querem trocar dois séculos e meio de crude por meio século de lixívia (no Porto é mais ano e meio...)? Não, não queremos. O comboio é para os aventureiros e para os festivaleiros. Como é que se chega a Caminha? Por acaso nos autocarros da Turilis dá para fumar ganja? E alguém já fez interrail dentro de um táxi? Quem no seu perfeito juízo se imaginou a repudiar em pequenino os comboios e todo o seu aparato de estações, túneis, montanhas e carris, preferindo antes brincar com miniaturas de táxis pretos com tejadilho verde e autocarros pequeninos de dois andares? Digam lá!
Fiquem sabendo que alguns sociólogos defendem que o comboio é o símbolo da sexualidade na Revolução Industrial (daí a expressão “deixa-me meter-te o comboio no túnel”).
O mundo ferroviário é mágico, é especial, está-nos no sangue. Mas a magia do mundo ferroviário dever-se-á procurar também na sua analogia ao futebol. Para além da coincidência de actuar dentro de linhas e de haver jogadores que partilham a sua omnoástica, como o colombiano “El Tren” Valência e o francês Desaillis, “a Locomotiva” (talvez por ser da cor delas), o que dizer dos Chefes de Estação, com a sua bandeirinha e apito, afinal uma mistura de fiscal de linha com árbitro?
Ah, meus irmãos, é por esta e por outras que o TGV nunca será credor da minha paixão.
N-U-N-C-A.
C.
6 comentários:
Apoiado Camarada! Temos que formar o "Grupo dos Viajantes de Comboio". Isto enquanto ele não desaparece lá para as nossas bandas...
Abraço!
Adoro as minhas viagens de comboio pelo mundo. São sempre longas no geral, mas são sempre realizadas com o propósito de visitar mais um sítio intersessante do planeta e para ter experiências de conhecimento memoráveis. Tenho um especial carinho por comboios eu. A própria palavra comboi é bela!
Sobre o comboio, a não perder: As Farpas, p. 38, também há uma passagem das batatas da aldeia que fala sobre eles e é interessante, mas não consigo encontrar a página... é ver... Abraço
Nós no mundo canino, também gostamos dos comboios, especialmente porque não distinguimos o pai do amigo, a mãe da amiga, os irmãos dos primos e até os próprios filhos dos filhos dos outros. Os nosso comboios são mais frequentes porque todos estão dispostos e… marcha tudo que estiver à mão.
Note-se, eu sou sempre a ultima carruagem.
Nos nossos comboios acontece um fenómeno inverso ao que acontece nos vossos, para vocês é conveniente que as carruagens não se separem, já para nós, convém que não fiquem presas, é que aparece sempre alguém que nos manda com um balde de água fria.
Quanto ao viajar de comboio, estamos literalmente a “cagar” para isso.
Um abraço e que o senhor vos proteja.
Desde que fui estudar para o Porto que me tronei clienete do comboio e lá já me aconteceu de tudo, engates, reencontros (bons e maus), falha de linas, viagens longas, muita muita vida.
Hoje é o sítio da inspitaçã, escrevo grande parte dos meus textos no comboio.
E já agora para os senhores dos autocarros: São todos anões?! Qu merda do caralho fazer o espaço dos bancos para anões?!
Nós que temos mais de 1.80 sofremos muito!
Viva o Comboio!
P.s.
ó p t i m o t e x t o!
Desculpa as gralhas....
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