Uma das profissões que em Portugal mais tem cavado o fosso do reconhecimento, a par do Ocultismo e da Criação de Avestruzes, é o de Crítico. Esta profissão desenvolveu-se particularmente a partir do 25 de Abril e mais ainda desde que o Miguel Sousa Tavares aprendeu a falar. Apesar de parecê-lo, eu não sou um crítico, porque é-se Crítico a tempo inteiro; pelo contrário, edito este blog de reflexão nos meus (poucos) tempos livres (assim dou uma machadada nos detractores do trabalho intelectual), porque dirijo, na vida real, um pequeno circo de átomos. Mas muitos críticos assinam sob outras profissões, e hão-os jornalistas, professores de psicologia, advogados, gestores de pequenas empresas e críticos de televisão e de cinema.
Há que conceder que para ser-se Crítico é necessário ter-se uma coragem acima da média para reflectir sobre a plêiade de assuntos que ele aborda nos seus espaços de opinião (daquela coragem que é quase estupidez, mas não é bem: só com o criticismo frenético se chegará a esse nível). O Crítico tem de saber um pouco de tudo: tem de ser uma espécie de engenheiro-médico-filósofo. Só assim se poderá transformar num oppinion-maker, o Son Goku dos críticos.
Ao contrário das outras profissões, o Crítico não possui uma linguagem técnica, porque não existe a gíria da crítica. Mas por ser aproximado à Filosofia aplica mas não domina termos da gíria filosófica como dogmatismo, heterodoxia, hegeliano, ápodo, silogismo e paradigma. A informação que ele veicula carece muitas vezes de forma e sintaxe e é possível muitas vezes admirar verdadeiros prodígios literários como “dogmatismo heterodoxo” (isto é um oximoro).
A grande batalha do Crítico é alcançar um espaço próprio, como as folhas de um qualquer diário capaz de aglutinar o seu ensaio semanal, ou num programa de televisão de audiência escassa feito para ocupar o espaço entre as publicidades. É aqui que ele vai exercer a sua condição maior, o ser do contra. O Crítico é contra tudo e todos e até contra si: é vulgar ouvir-se o “contra mim, falo” (traduzido do vernáculo “contra mim, caralho”).
Reveste-se assim de grande actualidade o imortal Manifesto Anti-Dantas e por extenso, de José de Almada Negreiros, Poeta de Orfeu, Futurista e Tudo: “O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever. O Dantas é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair. Mas é preciso deitar dinheiro”.
Concluindo, o Crítico é como os cães: para além de não conhecer o dono, alimenta-se alarvemente de toda a informação à disposição, misturando-a e quando a emanar rectalmente ela não servirá para nada, apenas para sujar as ruas e os nossos sapatos. Por isso vamos todos pegar num saquinho e, depois de o apanhar cuidadosamente por mor de não borrar os dedos, atiraremos o dejecto para um caixote do lixo a bem da saúde pública. Bem hajam.
E agora, meus senhores, é tempo de eu voltar ao trabalho e tentar que os átomos de meu circo produzam alguma molécula.
C.
Há que conceder que para ser-se Crítico é necessário ter-se uma coragem acima da média para reflectir sobre a plêiade de assuntos que ele aborda nos seus espaços de opinião (daquela coragem que é quase estupidez, mas não é bem: só com o criticismo frenético se chegará a esse nível). O Crítico tem de saber um pouco de tudo: tem de ser uma espécie de engenheiro-médico-filósofo. Só assim se poderá transformar num oppinion-maker, o Son Goku dos críticos.
Ao contrário das outras profissões, o Crítico não possui uma linguagem técnica, porque não existe a gíria da crítica. Mas por ser aproximado à Filosofia aplica mas não domina termos da gíria filosófica como dogmatismo, heterodoxia, hegeliano, ápodo, silogismo e paradigma. A informação que ele veicula carece muitas vezes de forma e sintaxe e é possível muitas vezes admirar verdadeiros prodígios literários como “dogmatismo heterodoxo” (isto é um oximoro).
A grande batalha do Crítico é alcançar um espaço próprio, como as folhas de um qualquer diário capaz de aglutinar o seu ensaio semanal, ou num programa de televisão de audiência escassa feito para ocupar o espaço entre as publicidades. É aqui que ele vai exercer a sua condição maior, o ser do contra. O Crítico é contra tudo e todos e até contra si: é vulgar ouvir-se o “contra mim, falo” (traduzido do vernáculo “contra mim, caralho”).
Reveste-se assim de grande actualidade o imortal Manifesto Anti-Dantas e por extenso, de José de Almada Negreiros, Poeta de Orfeu, Futurista e Tudo: “O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever. O Dantas é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair. Mas é preciso deitar dinheiro”.
Concluindo, o Crítico é como os cães: para além de não conhecer o dono, alimenta-se alarvemente de toda a informação à disposição, misturando-a e quando a emanar rectalmente ela não servirá para nada, apenas para sujar as ruas e os nossos sapatos. Por isso vamos todos pegar num saquinho e, depois de o apanhar cuidadosamente por mor de não borrar os dedos, atiraremos o dejecto para um caixote do lixo a bem da saúde pública. Bem hajam.
E agora, meus senhores, é tempo de eu voltar ao trabalho e tentar que os átomos de meu circo produzam alguma molécula.
C.
1 comentário:
Apoiado Camarada!!! Além disso com os salários que ganham já dava para fazer a ligação Porto-Vigo em TGV...
Abraço!
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