segunda-feira, maio 22, 2006

Quando a discordância força a concórdia

Ontem fui ver o Da Vinci Code; como já uma vez escrevi sobre a patranhada escrita (Carta Aberta ao Sr. Dan Brown), vou agora falar da patranhada filmada.
Para quem não leu o livro, o filme deve ser difícil de seguir: factos bombardeados sem contextualização, tudo de chofre. E as imagens retro que constantemente assolam a mente das personagens só complicam. Para os que leram o livro (é melhor chamar-lhe argumento) ficou apenas a constatação de pontuais alterações em relação à história. Suavizou-se a polémica inicial, aligeirando-se a tese nuclear da história. Com tamanho rol de actores (Hanks, McKellen, Reno, Molina e Bettany) O filme precisava de mais rasgo e força. Não obstante, vou aqui deixar nota de duas ou três prestações positivas repescadas na película.
1. Louváveis prestações da menina Audrey Tautou e do monge Paul Bettany; interessantes as cenas sobrepostas à acção que ilustravam as sinopses históricas.
2. Vê-se, finalmente, uma personagem a cortar a barba durante um filme! Começava a pensar que os argumentistas só compunham personagens imberbes. Na série Perdidos, por exemplo, ao fim de quarenta ou cinquenta dias na ilha, como é possível que os náufragos não estejam já com aspecto de figurantes do Planeta dos Macacos? Não se vê ninguém a cortar a barba nem a depilar pernas ou sovacos; no entanto transmitem um ar de quem acabou de se salvar dos destroços do avião. E afinal o escanhoar é importante para a acção porque é aí que o artista descobre o que eles andam à procura. Digno.
3. Por incrível que vos possa parecer, vejo-me obrigado a concordar com uma posição do Senhor Nuno Rogeiro. Na sexta-feira escreveu ele no JN que se é lícito chamar a Dan Brown um hábil narrador, é no entanto falaz (o termo é meu) considerá-lo historiador ou mesmo arqueólogo. E achei muita piada ao que li hoje no Público, já que Umberto Eco se recusou encontrar-se com D. Brown em Vinci, terra natal de Leonardo, acusando o americano de ser “um intriguista que propaga informações falsas e material de embuste (...) Irei a Vinci quando lá estiver um verdadeiro escritor”.

No final do filme, questionada a minha querida esposa acerca do grado da fita, lembrei-me da fábula das duas cabras que, tendo invadindo um velho cinema, se encontravam a comer bobinas de filmes na sala do projeccionista.
– Que tal o filme? - pergunta uma.
- Gostei mais do livro!

5 comentários:

hmscroius disse...

mimi: porque é que lhe faz espécie eu ser casado (muito bem casado, leia-se)? A idade não terá nada a ver com isso, mas digamos que nasci num certo verão quente. E continuo a não conseguir abrir o seu blog. Aconselho-a também a manter a guarda alta, porque já se começa a notar algo por baixo da saia.

noasfalto disse...

Confesso que essa patranha não me convenceu a ir ao cinema. Talvez por forretice.

Nunca liguei às febres que assolam os comuns mortais (Tipo Senhor dos Anéis, Harry Potter que te pariu e outros). Como ando sempre na lua adivinha-se porquê não?

Mas o que te queria dizer é que tento ler o livro nesta precisa data. Estranho é o facto de, ao contrário do que é habitual, ainda não ter conseguido avaliar o mesmo. Acho que um hipotético lado positivo da história (enredo) contrabalança a parte escrita.

hmscroius disse...

mimi: a expressão debaixo da saia nada tem a ver com prata da casa. E não haverá nada mais sexy que duas meninas debaixo dos lençóis. A única razão porque ainda lhe respondo é por não conseguir ENTRAR NO SEU BLOG!!!

hmscroius disse...

alcatrão: o livro é bom para se ler numa viagem de comboio entre o Porto e Caminha +- 2horas.

noasfalto disse...

Se é assim vou começar a ler o mesmo na casa de banho!

ps: para os desconhecedores (como tú homem das letras) asfalto is not equal to alcatrão!
Abraço