quinta-feira, junho 09, 2005

As Runas de Glicosury – A Gneisse do Corvo


Tal como prometido no post Rudimentos para a Giza de uma Saga, o Dr. Croivs lança aqui um esquiço sinóptico para uma saga, para rebentar de vez com a gonorreia mental que grassa nas cabeças das alimárias conotadas com uma certa literatura light, chamada de aventuras.
Primeiro, o lugar à justificação metodológica. A saga deverá ter forçosamente um encadeamento próprio, quase em verso. De uma assentada aproximamo-nos das sagas de classe mundial (o JRR Tolkien volta e meia metia a meio da narrativa umas cantigas estilo adepto de clube inglês com os copos a cantar alegremente: fomos enormes/ fomos grandes/ e só é pena/ não ter aqui umas sandes, apesar da equipa estar a ser empalada por 6-0) e promovemos a cultura interna, que é tão ou mais que as estrangeiras, qual obra do Vicente ou do Camões; a língagem deverá ser do tempo das Cantigas de Amigo (Ai Flores, Ai Flores do Verde Pino, Se tendes Novas de meu Amigo, Ai Deus e o é, que anda por aí o meu marido).
O Dr. Croivs investigou e seleccionou algumas das nossas cantigas de gesta e romanceiro, tomando a liberdade de escolher um dos seus preferidos, chamado D. Beltrão de Roncesvales, para servir de exemplo, dada a elegância e a riqueza semântica patente na romance (retirado de J. Leite de Vasconcelos, Romanceiro Português, vol. I, Coimbra, 1960, n.º 17):

Três voltas dei ao castelo – sem achar por d’onde antrar
Cavaleiro d’armas brancas – viste-lo por qui passar
Eu vi-o morto n’areia – com a cabeça no juncal
Três feridas tinha no corpo – todas três eram mortal
Por hua lh’entrava o sol – pela outra o luar
Pela mais pequena de todas – um gavião a voar
Com as asas mui abertas – sem las ensanguentar
Três voltas dei ao castelo – sem achar por d’onde antrar

Catita, hã? Pois bem, a nossa saga tem de ter os ingredientes apontados por nós naquela explicação, a saber paisagem lacustres, montanhosas, turfeiras e tundra de neves eternas; depois o cavaleiro versátil, o monge, mago ou feiticeira, os mercenários e o trapalhão, a demanda, qualquer coisada mágica e as pedras. Vamos lá lavrar uma sinopse para encher as contracapas da publicação:

Do alto daquela montanha – hum cavaleiro escuta ao longe
As terras que de lá se miram – despois de hablar cum monge
E lh’o monge dizia rezando – c’as pedras do Corvo cantavam
Dizeres antigos de curvas – e los rabiscos significavam
Hua ‘stória de males de mundo – antes dos tempos começarem
Dos dias d’ hoje chegarem - Os ventos de sul soprarem
Cum neño foi leixado – em terras do longe abandonado
Seu pai senhor arreliado – por seu cú ter lo sinal tatuado

Eh cavaleiro que a pedra fala – Lh’o monge dirá mais à frente
Num neño no frio arredado – Depois c’os Lhobos dormirá quente
E pr’ hua lhoba será creado – depois ó convento noviciado
E lhas lenguas e letras aprenderá – porém sem ser ordenado
Lho Cavaleiro do mosteiro – na viaje conhecerá pr’a peleija
Muy valentes mercenários – hu moro, hu pirata, hua crangueja
Mai’lo porqueiro do Castelo – qu’é ladrão de fama antiga
Trapalhão ensarilhado – c’o a cara de lumbriga

Lhos parceiros em demandas – pois lhó Reyno aventarão
Que seu padre há muito perdeu – pró feiticeiro e tirano irmão
C’a justicia voltará à terra – d’onde partiu ainda neño
À sepultura do pai arrojará – pois foi morto por lo veneno
Hua ‘spada vam achar – pr’a banda do lago merino
Mais ela irá a matar – lho tio tirano assassino
Chegará o fim da ‘stória - C’o século mesmo à beira
E todos dirão enfim - Samicas de Caganeira

2 comentários:

kiko disse...

Oh runas, oh runas... Badajoz à vista!.... Um introito ritmado... musical... parece-me senhor doutor, que vai no caminho da elegância poética.... da Saga criará um Sagui! Abraço :D

hmscroius disse...

ao quioske: vou antes tentar o saguão. abraço. um dia destes sai o capítulo I: Génese da Gneisse